A Queda da Armadura

Por Fernando Puhlmann

"A vítima menos óbvia do machismo, que está presa e sem voz, 

sem perceber sua condição, é o próprio homem."

Maurício Zanolini

Existe uma fragilidade silenciosa que percorre os corredores da masculinidade: o medo de parecer vulnerável. E, dentro desse labirinto, os fetiches masculinos acabam virando reféns de uma armadura forjada pela cultura da virilidade.

Em algum lugar entre o desejo e o medo, muitos homens lutam. São confrontados por vontades que não pediram para sentir - fantasias que os excitam, mas que também os envergonham. Quando esse desejo escapa das normas tradicionais da masculinidade, criadas muitas vezes por uma sociedade estruturalmente machista, ele se transforma, na mente de muitos, em ameaça. Assim nasce a fragilidade: não no fetiche em si, mas na tentativa de esconder, sufocar, negar o que é profundamente humano.

Não é raro ouvir homens falarem sobre suas fantasias sexuais apenas quando isso os coloca como dominadores: "meu ÚNICO fetiche é transar com três mulheres ao mesmo tempo", "ela não queria, mas eu a convenci a chamar uma amiga". Mas o que raramente é dito - ou até mesmo admitido para si mesmo - é o desejo de experimentar a submissão, o cuidado, o afeto, a entrega. Desejos que, por medo do julgamento, acabam sendo enterrados sob camadas de machismo, humor e exageros.

Essa necessidade de parecer sempre no controle, de dominar tudo, é um reflexo direto da educação emocional que os homens, em sua maioria, não receberam. A sociedade ensinou que o homem deve ser o caçador, o provedor, o invulnerável, o "comedor" - e qualquer desvio disso é sinal de fraqueza. O resultado dessa equação, é que ele só se permite explorar seus fetiches se puder contá-los como troféus, e não como confissões.

Pesquisas sobre sexualidade humana, como os desenvolvidos pela plataforma Sexlog, especializada em sexo e swing, mostram que a diversidade dos desejos é uma característica inerente à natureza humana. Nela, homens gaúchos "confessam" o desejo por sexo anal, por ver sua parceira transar com um ou mais parceiros (enquanto eles assistem) ou ainda participar de orgias (solteiros ou acompanhados de parceiras e parceiros). Ou seja, o que é frequentemente tratado como "estranho" ou "anormal" é, na verdade, comum - apenas mal compreendido dentro de uma sociedade machista.

Mas o que é mais frágil do que não poder ser quem se é? Falar sobre o que se sente e desperta desejo? O que dizer sobre nossa masculinidade quando ela depende da aprovação dos outros para existir?

A verdade é que muitos homens morrem de vontade de dizer o que gostam, que sonham em ser tocados com delicadeza, que têm fetiches que os colocam em posições de entrega - mas o medo de não serem mais vistos como "homens de verdade" os cala. E esse silêncio, aos poucos, vai sufocando o prazer, a autenticidade e a liberdade sexual. A partir daí muitos homens lidam com seus fetiches de maneira escondida, isolada, muitas vezes recorrendo à fantasia solitária e ao consumo de pornografia para dar vazão a esses desejos, sem precisar encarar a possibilidade de rejeição. Essa clandestinidade emocional não é apenas prejudicial à autoestima, mas também perpetua uma cultura de silêncio e culpa.

Esse bloqueio emocional torna o fetiche um terreno perigoso: algo que deveria ser explorado com empatia, consentimento e liberdade vira fonte de vergonha, solidão e sofrimento. Muitos homens se escondem atrás de telas, navegando por conteúdos que nunca se sentiriam seguros em confessar a um parceiro ou parceira. O resultado pode ser um mergulho exaustivo ao "esgoto" da web, sempre em busca de um prazer proibido que os torna presas fáceis para sites cada vez mais complicados.

Chegou a hora de desmontar a armadura e descobrir o que existe por trás da performance. Porque só quando o homem parar de usar seus fetiches como máscaras, e começar a usá-los como pontes para o autoconhecimento e para conexões reais, é que ele poderá, de fato, viver sua sexualidade com plenitude e não apenas performá-la em mesa de bar ou em churrasco de amigos para ser aceito dentro de uma sociedade estruturalmente machista e frágil.

Autor
Sócio-cofundador da Cuentos y Circo, Puhlmann é um dos principais especialistas em YouTube do país, com um olhar focado em possibilidades de faturamento na plataforma e uma larga experiência em relacionamento com grandes marcas do mercado de entretenimento. Além de diretor de Novos Negócios da CyC, tem também no seu currículo vários canais no país, entre eles o do escritor Augusto Cury, do Gov Eduardo Leite, Natália Beauty e do Grêmio FBPA, sempre atuando como responsável pela estratégia de crescimento orgânico dos canais. Já realizou palestras sobre a nova Comunicação juntamente com diretores do YouTube Brasil como a abertura do 28º SET Universitário da Famecos-PUCRS, o YouPIX/SP e o Workshop YouTube Gaming Porto Alegre. Desde 2013, Puhlmann ministra cursos, seminários e oficinas sobre YouTube, tendo mentorado mais de 30 canais nos últimos anos.

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