O mais inusitado no processo são as justificativas para a decisão final. Três fatores teriam impulsionado a ascensão vertiginosa de ?67? para o lugar mais alto no podium de A Palavra do Ano: a música ?Doot Doot (6 7)?, do rapper Skrilla, vídeos virais de basquete no TikTok que popularizaram o termo e o "The 67 Kid", um garoto que repetiu a expressão exaustivamente em um jogo, transformando-a em meme. Ou seja, uma escolha baseada em uma realidade autenticamente norte-americana, que virou febre a partir da Geração Alfa, dos nascidos após 2010.
Só pra lembrar, em 2024 a palavra do ano foi ?brain rot" ("cérebro apodrecido" ou "atrofia cerebral"), e em 2023 foi o ?rizz?, termo geralmente citado em postagens relacionadas ao charme para atrair parceiros em potencial. Ambas as escolhas foram da conceituada universidade britânica de Oxford. Hoje, quem lembra dessas palavras?
Isso posto, me dou o direito de pensar que os doutos acadêmicos de Oxford e de outras instituições igualmente prestigiadas devem estar sem pauta relevante para essa imersão sazonal em busca da tal palavra do ano. Gostaria de participar como mero espectador da reunião dos lexicologistas em que a palavra é escolhida entre tantas que ficaram em evidência durante o ano. Será que os debates são acalorados? Grupos internos torceriam por essa ou aquela palavra? Haveria lobistas externos pressionando para emplacar seu termo favorito, buscando algum tipo de vantagem? Existiriam interesses escusos por trás da escolha? E, afinal, qual a utilidade de reverenciar a Palavra do Ano? Eis um detalhe que não consigo alcançar.
Como estou adiante do meu tempo, embora seja das gerações baby boomers dos nascidos entre 1945 e 64, já cheguei ao 69, que está acima do agora celebrado 67. Reservo-me o direito ao silêncio obsequioso para não prestar mais esclarecimentos sobre minha preferência pelo 69, que está expressa no livro Quando Eu Fiz 69, lançado em setembro de 2019 e esgotado no mercado.
Não vai faltar quem diga: ?Quanta bobagem!?. É verdade, mas quem começou foram os acadêmicos sem pauta de Oxford.