Aristófanes

Por José Antônio Moraes de Oliveira

 

Nos meus tempos de ginásio, havia um colega de classe que se chamava Aristófanes. Era um nome que muito me intrigava - não conseguia entender porque alguém deveria carregar um nome tão pesado pelo resto da vida. Até que um dia, achei um jeito de perguntar ao Aristófanes de onde saíra aquele nome. Ele, meio encabulado e sem graça, falou que odiava o nome, mas que era uma homenagem do pai, professor de História a um sábio grego que ele admirava. Dei um abraço ao colega e fui me ocupar de coisa melhor.

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Uma semana depois, diante da Biblioteca Pública, me resolvo a procurar uma boa leitura para as férias. Enquanto a moça do balcão procura minha ficha de leitor, vou rondar pelas prateleiras atulhadas de livros. Há um denso cheiro de poeira e coisa velha que recorda dos tempos na fazenda do Passo Grande, quando soprava o minuano forte e as tias corriam a trancar portas e janelas. 

Então, a casa cheirava aos guardados do avô, almanaques, livros e alfarrábios de história e medicina que ele encafuava nos baús, armários e até debaixo de sua cama de ferro. As lembranças me levaram por entre as estantes até chegar à seção de História. Ali estavam eles - os sábios gregos que o pai de meu colega tanto admirava. Passei pelas lombadas: Aristóteles, Platão, Plutarco, Arquimedes, mas nada do Aristófanes. Leio aqui e ali alguns dos livros e quase perco a hora do almoço, mas chego em casa com Platão e Plutarco debaixo do braço.

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Alguns tantos anos se passaram e chega a hora de enfrentar o temido exame oral de Filosofia. Na banca à minha frente, o mais severo dos examinadores; ele me conhece da sala de aula e sabe que não estudei a matéria como deveria. O Irmão José Otão me olha com gravidade e sorteia o ponto. Então sorri, mostrando o papelinho - Filósofos gregos.                          

Obrigado, Aristófanes.

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Mas me encanto com alguns de seus ditos mais famosos: 

"Espera de teu filho o que fizeste com teu pai;"

"Longos discursos não indicam sabedoria;"

"Usa também o conselho que dás aos outros;"

"É sábio aprender com os erros dos outros;"

"Quando os bons se recusam a agir, são punidos a viver sob o governo dos maus."

Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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