As lições da pandemia

Por Elis Radmann

21/07/2020 17:58

O dito popular nos diz que ?a dor ensina a gemer?. Essa lição clássica traz consigo a máxima de que só valorizamos algo quando o perdemos. Quem não ouviu aquela frase célebre, existente na maioria das famílias: ?Você só vai dar valor a tal coisa quando não tiver mais?. 

Esse exemplo tem sido a principal lição do coronavírus: nos ensinar a reconhecer e a valorizar o que tínhamos! A olhar para coisas simples da vida que estavam sempre à nossa disposição e que, hoje, nos fazem muita falta.

Estávamos tão absorvidos pelo ritmo acelerado imposto pelas regras e protocolos do dia a dia (sejam de trabalho, de estudo ou de conquistas), que não gastávamos muito tempo observando o que tínhamos, mas o que queríamos ter. Não prestávamos tanta atenção no ?ser? e sim, no ?ter?.

E a pandemia apareceu de uma hora para a outra, criando uma grande ruptura em nosso cotidiano, ?bagunçando? a nossa vida e nos ensinando o valor de coisas importantes de nossa existência. Despertando os mais diferentes tipos de saudade, que nos permitem fazer uma lista de perdas momentâneas:

Hoje sentimos falta dos abraços, beijinhos e apertos de mão.

De visitarmos nossos pais ou avós com frequência. E os nossos pais e avós sentem falta de sua liberdade. De fazerem coisas simples, como a ida ao supermercado, ao banco ou até mesmo uma visita ao amigo.

Sentimos falta das reuniões de família e até daquele parente mais chato.

De ir a um aniversário, casamento ou em festas típicas de cidades, daqueles pavilhões cheios e filas homéricas.

Lembramos com saudades daquelas rodas de chimarrão entre amigos.

E das festas da noite, onde um esbarrava ou se apoiava no outro.

E a galera jovem sente falta dos encontros, paqueras e amassos e até daqueles trabalhos em grupo, onde sempre tem um colega folgado que não faz nada.

As crianças estão desoladas por não encontrarem os amigos, não compartilharem e socializarem aprendizados, brincadeiras ou até mesmo do conflito (aquele desentendimento onde se diz ?não sou mais teu amigo?, seguido da lição clássica de pedido de desculpas e do abraço). 

As crianças também sentem a falta de convívio com outras crianças da família, por não visitarem os primos e não terem aqueles dormidões na casa dos avós.

Os estudantes e professores sentem falta da sala de aula, inclusive das provas e das ?muvucas? da escola. 

O pessoal que gosta de TV, está com saudade de suas novelas ou seriados. E o pessoal das artes, cultura e turismo não vê a hora de tudo isso acabar. Vivem um misto de saudade, nostalgia e esperança.

Sentimos falta da possibilidade de sonhar com férias ou com uma viagem para a casa de um parente.

Há muita saudade do esporte, seja por quem pratica ou aprecia campeonatos. Quem acompanha o futebol e vibra com o seu time, não vê a hora de ver a bola rolando, valendo o campeonato. Para essas pessoas a saudade da torcida presente no estádio é imensa, é como se estivessem sem o seu remédio natural contra o estresse. 

A saudade também é severa para aquelas pessoas que estão impedidas de trabalhar. É uma saudade que vem acompanhada de medo, preocupação, em especial para aqueles que não têm renda fixa.

E a pandemia tem prejudicado até o rito de despedida de um ente querido, criando a sensação de que ?algo ficou faltando?.

A lista de lições que a pandemia está nos dando é imensa. A grande pergunta é: como vamos lidar com as essas perdas e, principalmente, que pessoas seremos depois de tudo isso?