Como a sociedade percebe o Estado

Por Elis Radmann

O Estado existe com a finalidade de garantir o bem-comum da sociedade. Por princípio, a população deveria se sentir protegida, se sentir cuidada. Mas, na prática, tem se acentuado a percepção negativa da população em relação ao Estado e às instituições que o compõe.

E quando falo em Estado, não estou me referido apenas ao Rio Grande do Sul, estou falando de Estado como unidade política, em seu sentido amplo: uma comunidade de cidadãos organizada por órgãos e serviços, que criam normas e regras para que se possa viver em desenvolvimento, ordem e paz. Podemos pensar em todas as instituições do Governo Federal, Estadual e do Município em que vivemos.

Nesse contexto, quando um entrevistado externa a sua percepção sobre o Estado, ele está avaliando de forma genérica e sua análise pode estar baseada nas 'entregas' ou na 'reputação' do Estado, tais como:

a) Experiências negativas na utilização de um serviço;

b) Inexistência de serviços em um bairro ou cidade;

c) Relacionamento com obras inacabadas;

d) Influência de amigos e familiares;

e) Comentários e críticas de servidores públicos;

f) Influência do noticiário;

g) Publicações e debates nas redes sociais.

E na percepção da maioria da população, o Estado é um ente que traz mais problemas do que soluções. Mais atrapalha do que ajuda! E essa percepção está associada à leitura de que há quatro males que atingem as instituições no País:

1º) Corrupção - O mal mais notório e que tem ganhado muito destaque nos noticiários da última meia década. A percepção é de que o problema da corrupção é endêmico e está enraizado nas instituições e na sociedade.

2º) Burocratização - Este é um mal que afeta muito a sociedade e estimula o descrédito com os governantes e servidores públicos. Em muitos casos a pessoa 'peregrina' para resolver um problema no Estado. A visão negativa da burocracia está associada à morosidade, à falta de informação ou informação segmentada, que exige que o cidadão vá a diferentes repartições e tenha que correr atrás de diferentes documentos, muitas vezes refém da interpretação do servidor que lhe atendeu.

A burocracia é associada à corrupção quando o senso comum apregoa que o Estado "cria dificuldade, para vender facilidade". A população questiona se a corrupção motiva a ineficiência dos serviços públicos ou a ineficiência é fruto da corrupção? Não há resposta para esta questão!

3º) Privilégios - Este é um dos malefícios que permeia o Estado e amplia a descrença da população. Para "os amigos tudo e para os demais os rigores da lei". A população relata seu desalento com os privilégios dos altos salários, do auxílio moradia, da utilização de carro público para fins pessoais, do não cumprimento de horário nas repartições públicas e até da utilização do espaço público para comércios.

4º) Taxação/ tributação - Além de haver corrupção, ineficiência de serviços e privilégios a sociedade é constantemente sobretaxada ou tributada para a cobertura dos rombos destes e de outros malefícios.

Para que a sociedade reveja a sua percepção sobre o Estado, são necessárias ações corretivas como mecanismos efetivos de combate à corrupção e aos privilégios, desburocratização e desoneração tributária.

É necessário descortinar a corrupção e desenvolver um sistema de debate que construa um novo contrato social com a sociedade, onde se pactue o que é certo e o que é errado, incluindo o jeitinho brasileiro (que é base cultural da corrupção e dos privilégios).

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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