Coopítulo 92 - Os cartunistas
Por Vieira da Cunha

Era no Coojornal que fotógrafos e humoristas encontravam espaço para apresentar suas preocupações, anseios, reivindicações. E isso desde sua primeira edição em bancas, em outubro de 1976, quando estreou em três páginas a seção Quadrão.
Quadrão era uma herança dos bons tempos da Folha da Manhã, que publicava semanalmente um espaço generoso dedicado ao humor. Seu idealizador, mentor, incentivador e editor era José Guaraci Fraga, o Fraga, um incansável líder que tinha uma passagem vitoriosa como criador na área de publicidade em agências como a histórica MPM Propaganda. Incansável, foi organizador e coautor de vários livros coletivos de humor.
A iniciativa acolhida pela Folhinha se consolidaria no Coojornal e serviria de trampolim para revelar jovens talentos e dar abrigo a nomes já respeitáveis mas sem espaço na grande mídia, como Batsow, Bendati, Edgar Vasques, Ferré, Juska, Lilian Ben David, Ronaldo, Santiago e Schröder. Fraga contribuía com suas frases de humor sempre provocadoras, como esta: "Ame o próximo como a si mesmo. Mas depois não venha se queixar". Ou como este primor de ironia e sarcasmo: "Se você precisa dizer algumas verdades ao seu patrão e tem medo, diga aos seus colegas de trabalho. Elas chegarão quentinhas".
Em julho de 77 o jornal registrou o debate entre os humoristas promovido com a mediação de Juarez Fonseca, que começava a se destacar como crítico musical na imprensa diária. Participaram o paulista Antonio Carlos Nicolielo, o paranaense Luis Antônio Solda e os gaúchos Guaraci Fraga e Ronaldo Westermann. Aspectos da profissão, como o posicionamento do humorista em relação a seu emprego, a valorização da categoria, tava tudo lá. Questionaram até o próprio trabalho, geralmente sem estabilidade, à base de free-lancers, como estava no mote do debate.
Em outro encontro, foi a vez de Santiago lembrar que, assim como a Folha da Manhã havia feito, o Coojornal valorizava muito o cartum, a ilustração e a caricatura. Com isso, faz um trabalho histórico, enfatizou o cartunista que viria a se tornar um dos mais premiados de sua área, com reconhecimentos em nível nacional e internacional, na Alemanha, Canadá, Japão e Turquia, entre outros.
Edgar Vasques, o criador do mendigo Rango, que se tornaria sua eterna marca registrada, encontrou no Coojornal espaço valioso para, através do personagem, distribuir suas críticas sociais. Trabalhava nesta época no Departamento de Arte da Cooperativa dos Jornalistas e destacou que um dos aspectos exercitados ali com competência e repercussão era o uso da ilustração humorística mesmo em reportagens que passavam longe do humor, muito pelo contrário. Foi um período que considerou como excepcional em sua formação:
- Eram todos artistas de alta qualidade na ilustração. A gente inventava técnicas, tinha grande liberdade. Então, era um grande laboratório, um laboratório livre. Ninguém dizia o que não se podia fazer. Os jornalistas traziam as demandas e a gente decidia como resolver.
Eis aí, nas palavras de Edgar, uma rica síntese do clima que imperava nas salas e nos corredores da Cooperativa dos Jornalistas de Porto Alegre no final dos anos 70 e início dos 80.