De tudo um pouco

José Antônio Moraes de Oliveira

"Lento é o tempo para os que esperam, 

Rápido para os que tem medo, 

Longo para os que lamentam, 

E curto para os que festejam (...)."

 

William Shakespeare. 

                  

A lista é interminável - Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Mário Quintana, T.S. Elliot, Paul Verlaine. São muitos, os vastos e inspirados poetas que desenharam versos perfeitos, tentando desvendar o mais indesvendável de todos os temas - o Tempo. 

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E também nós, à medida em que os anos passam, recitamos fragmentos de versos, tentando preservar coisas, personagens e cenários, vagas relembranças da inocência perdida. Como queria o poeta Jorge Luis Borges, fúteis tentativas em retardar o esquecimento que dizia ser a melhor vingança e o único perdão.

Já adultos, a caminho de envelhecer, inventamos efêmeras tolices para substituir afetos perdidos: uma TV de tela grande, um carro vermelho, aquela praia deserta, a namorada mais nova. Mas, mesmo assim, as lembranças de infância não vão embora. Algumas, em sonhos recorrentes, ou apenas espelhos embaçados de dias remotos. Como as do poeta Mário Quintana:

"Com enternecimento eu recordaria aquele velho tio de perna de pau, que nunca existiu na família, e aquele arroio que nunca passou nos fundos do nosso quintal ..."

Ou, fazer como Millôr Fernandes:

"Com o telefone que o menino fez com duas caixas de papelão vou pedir uma ligação com a infância."

Sem um arroio nos fundos do quintal ou telefones de papelão, resta o consolo apregoado por Jorge Luis Borges:

"O verdadeiro passado não é o que aconteceu, mas é o que pensamos ter acontecido."

Mesmo assim, fica a ânsia de voltar a outros tempos. Outro poeta conta que, quando era menino, os mais velhos lhe perguntavam o que queria ser quando crescer. Mas que agora, não perguntam mais. Se perguntassem, diria:

"Quero ser menino de novo."

Enquanto isso, Carlos Drummond de Andrade ensina que não precisamos retornar ao passado, pois ele continua conosco:

"(...) De tudo fica um pouco.Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha.

De teu áspero silêncio um pouco ficou,

Um pouco nos muros zangados,

nas folhas mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana."

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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