Democracia sob ataque

Por Elis Radmann

O último dia 8 de janeiro de 2023 foi histórico. Assistimos atônitos à violência, em um cenário de "guerra" contra a democracia, utilizando o vandalismo e a criminalidade para se fazer a luta política.

Devemos prestar atenção nos simbolismos da invasão da Praça dos Três Poderes e na vilipendiação praticada. As imagens dos atos são icônicas e cheias de significados. Um recado político, fruto de um planejamento organizado e orquestrado que, aparentemente, tinha o objetivo de ferir a democracia.

As roupas para a festa de vilipendiação tiveram como base as cores da bandeira nacional e, em muitos casos, utilizaram a mesma como "capa protetora".

Os que, por ventura, tinham o propósito de fazer uma manifestação pacífica, foram absorvidos pela ação desordeira e depredatória do grupo que foi classificado, internacionalmente, como terrorista e golpista e, por seus atos antidemocráticos, enquadrado nos crimes contra o Estado Democrático de Direito. Sem contar as inúmeras comparações e similitudes com o cenário político radical que motivou a invasão do Capitólio norte-americano no dia 6 de janeiro de 2021.

Voltando à análise dos simbolismos, nunca havia se visto um ataque simultâneo de invasão e destruição dos Três Poderes do País (executivo, legislativo e judiciário). Atacar o Congresso Nacional significa vilipendiar a casa do povo (Câmara dos Deputados) e a casa dos Estados (que é representada pelo Senado Federal). A incursão violenta ao Palácio do Planalto demonstra o movimento político de desdém para com o maior chefe da nação, eleito democraticamente. Invadir e quebrar o STF (Supremo Tribunal Federal) é uma tentativa de deslegitimar os guardiões da Constituição, o maior desrespeito para com a nossa Carta Magna.

Não há nenhum argumento e motivo plausível para se quebrar salas, equipamentos, obras de arte, se destruir o patrimônio histórico do Brasil e muito menos roubar armas letais e não letais do GSI (Gabinete de Segurança Institucional). Sabemos que esta conta será paga pelo povo brasileiro, independentemente da ideologia.

Diante de tantos simbolismos, faltou a atenção das autoridades constituídas aos "sinais" de ataque permanente à democracia: desde o questionamento às instituições, à ciência, passando pelas ameaças veladas de toda a ordem, até as manifestações antidemocráticas que pediam intervenção militar. A falta de observação dos sinais foi acompanhada de certa negligência ou ingenuidade, faltou um serviço de inteligência na monitoração das redes sociais e, principalmente, no acompanhamento dos movimentos políticos das manifestações contrárias à democracia.

A constituição não é apenas um pedaço de papel, trata-se de um contrato social que nos guia como sociedade, que legitima o que é certo e o que é errado, o que podemos ou não fazer. E a Constituição não pode aceitar a estupidez e a violência como um argumento de patriotismo. A democracia irá sobreviver e a história irá contar que passamos por um período de teste, como sobrevivemos e o que aprendemos com ele. Precisamos de um respiro de serenidade e bom senso e o respeito à ordem deve prevalecer.

Autor
Elis Radmann é cientista social e política. Fundou o IPO - Instituto Pesquisas de Opinião em 1996 e tem a ciência como vocação e formação. Socióloga (MTB 721), obteve o Bacharel em Ciências Sociais na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e tem especialização em Ciência Política pela mesma instituição. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Elis é conselheira da Associação Brasileira de Pesquisadores de Mercado, Opinião e Mídia (ASBPM) e Conselheira de Desburocratização e Empreendedorismo no Governo do Rio Grande do Sul. Coordenou a execução da pesquisa EPICOVID-19 no Estado. Tem coluna publicada semanalmente em vários portais de notícias e jornais do RS. E-mail para contato: [email protected]

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