Descortine e desbrave todos os dias de 2023

Por Márcia Martins

No livro 'O conto da ilha desconhecida', de José Saramago, escritor português, ganhador do Nobel de Literatura em 1998 e do Prêmio Camões, em 1995, determinado trecho relata o pedido ao rei de um barco por um homem que deseja viajar até uma ilha desconhecida. Intrigado, o rei retruca como saber se a ilha existe, se a mesma é desconhecida. O homem que solicitou o barco explica que "assim são todas as ilhas até que alguém desembarque nelas". E assim eu vejo o ano que despontará logo ali, ao findar do dia 31 de dezembro de 2022: um enigma desconhecido exigindo que seja desbravado, desvendado e descoberto.

Uma vez que 2023 se descortine ao nosso embarque, ele se tornará íntimo de nós e só dependerá do rumo das nossas atitudes - transformadoras, propositivas e ousadas - transformá-lo em uma experiência inovadora. E diferente de tudo que vivemos até então. Como no conto de Saramago, serão a nossa vontade e a nossa obstinação as responsáveis por fazer do novo ano um porto seguro, com poucas páginas destinadas ao desânimo.

Definitivamente, nesta que será a última coluna escrita para o portal em 2022, eu desejo aos leitores e leitoras, os eventuais e assíduos, muita determinação para enxergar mais beleza e otimismo em todos os dias dos 12 meses do novo ano. Desejo que qualquer mentalidade de negatividade seja realmente uma página virada na vida de todos nós. Desejo que as perdas e todos os desconfortos fiquem estacionados no dicionário e não invadam os nossos sonhos. E que a nossa rotina seja sempre temperada com o inconformismo, com a inquietação e com a plenitude em todos os momentos.

Tudo o que precisamos para que 2023 desperte como uma possibilidade de renovação encontra-se dentro de nós, da nossa coragem em ir adiante, do nosso desafio em arriscar, da nossa audácia em levantar e tentar novamente depois de cada queda inesperada.

Mais do que nunca, ainda utilizando um pensamento de Saramago no conto já citado mais acima, "é preciso sair da ilha para ver a ilha, não nos vemos se não saímos de nós". Que em 2023, todos consigam se enxergar internamente, por mais que esse movimento seja doloroso, e ao sair e desbravar o que existe dentro, seja permitido corrigir qualquer falha no percurso.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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