Doze minutos

Por José Antônio Moraes de Oliveira

24/11/2022 14:23
Doze minutos

?Temos conosco uma máquina do tempo.

Que nos leva ao passado, despertando lembranças.                   

Ou nos conduz para diante, criando sonhos."

 

Charles Spencer Chaplin.

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Em 1972, Charles Chaplin deixa seu exílio voluntário na Suíça e viaja a Los Angeles para receber da Academia de Hollywood seu segundo Oscar honorário. A homenagem é acompanhada pela mais longa ovação em pé da história do Oscar, com uma duração de doze minutos. De regresso a Vevey, ele comenta para sua esposa Oona O'Neill:

"Fizeram de meus sonhos minha melhor lembrança".

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O reconhecimento de Hollywood teve imediato eco na imprensa norte-americana que escreve: "os filmes de Chaplin tiveram um efeito incalculável - de fazer do cinema a arte do século". Porém, os elogios tardios não foram suficientes para apagar as sombras dos anos 50, quando o macartismo obrigou o criador de Carlitos a renunciar sua cidadania e se auto-exilar na Suíça. O tempo se encarregou de redimir Charles Chaplin e consagrá-lo como um verdadeiro gênio e um dos "Pais do Cinema", ao lado dos Irmãos Lumière, Georges Méliès e D.W. Griffith. Ele atuava, dirigia, escrevia, produzia e financiava seus próprios filmes, com influências do comediante francês Max Linder e de Buster Keaton. Uma carreira que durou por mais de 75 anos, desde as primeiras atuações infantis nos teatros londrinos até quase até sua morte, aos 88 anos de idade. A vida pública e privada de Chaplin incluiu muitas controvérsias e polêmicas, mas sua genialidade nunca foi contestada. Juntamente com Mary Pickford, Douglas Fairbanks e D. W. Griffith, fundou em 1919 a United Artists, um dos pilares da indústria do cinema.

Ele encerrou a carreira sem explicar seus métodos de filmar, alegando que seria o mesmo que pedir a Houdini revelar sua mágica. Na verdade, antes de produzir filmes falados em 1940, com 'O Grande Ditador', ele não usava roteiros. Seu contrato com o Essanay Studios lhe dava total liberdade de roteirizar e dirigir. Assim, ele filmava partindo de uma simples referência, como "Carlitos entra em uma loja" ou "Carlitos como vidraceiro". Ele tinha cenários construídos e dirigia na base de piadas, sempre improvisando na hora de filmar. Ele morreu no Natal de 1977 e foi sepultado em um pequeno cemitério em Corsier-sur-Vevey. Mas, seu repouso ainda não estava garantido - dois imigrantes desempregados violam sua sepultura e roubam o corpo com caixão e tudo, na tentativa de extorquir dinheiro de sua viúva Oona O'Neill.

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Meses depois, a polícia prende os criminosos e recupera o caixão em um vilarejo próximo ao Lago Léman. Chaplin é novamente enterrado em Corsier-sur-Vevey, desta vez, blindado por um ataúde de concreto. E no local é erigida uma estátua evocativa  de sua mais famosa criação, conhecida como Charlot na Europa  e como Carlitos no Brasil. Um personagem imortal do Cinema: um andarilho pobretão com gestos e maneiras refinadas de um gentleman, que usa um fraque preto apertado no copo, sapatos de clown, chapéu-coco, bengala de bambu e um pequeno bigode, herança do personagem Adenóide Hynkel, de "O Grande Ditador".

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