Duelo de interesses forma fofoqueiros de plantão

Por Grazielle Araujo

Ser jornalista é - ou deveria ser - muito mais do que a própria função em si. Quando fizemos assessoria, participar do processo, seja ele qual for, faz diferença na hora de comunicar, de construir, de explicar e até mesmo de saber calar. Porque quando a gente - ou quem representamos - ainda não está estrategicamente no momento de falar, o silêncio ainda segue sendo o melhor caminho. 

Quando sabemos que o assunto em questão se tornará público, construir o passo a passo da comunicação se faz necessário entre todas as partes. Alinhamento, planejamento, estratégia, ética e responsabilidade são as palavras chaves nesse momento. Seguidas por respeito, confiança, hierarquia e crédito. Mesmo que tudo isso aconteça apenas no imaginário, sem precisar de papel, ppt ou algo estampado. 

Eu adoro planejar mentalmente, trocar ideias e combinar com os russos para fazer acontecer conforme o combinado. Por outro lado, o dedicado trabalho dos repórteres justifica os furos, as fontes, as informações privilegiadas. Muitos se destacam exatamente por isso, pela rede de relacionamento criada pelo trabalho de cada um. Se eu gosto de ser fonte? Ora, quem não gostaria? Porém, tenho sido cada vez mais cautelosa, o que talvez justifique a procura dos repórteres apenas quando eles já foram informados pelas suas "fontes quentes" e depois precisam apenas confirmar comigo. Porque antes de mais nada, eu tenho uma pessoa ou uma marca que confiou em mim, que me permitiu escutar informações consideradas estratégicas por pensar, talvez, que eu pudesse agregar algo ou simplesmente por entender que é importante a pessoa que vai fazer esse meio de campo com os diferentes públicos saber o que se passa. 

Confesso que eu adoro participar de tudo isso, me encanta. Prefiro entrar muda e sair calada de uma reunião (por mais difícil que isso seja para uma inquieta como eu) do que apenas ao final de um encontro fazer um registro fotográfico e uma legenda que não diz nada com coisa nenhuma. Mas isso existe e precisa-se fazer também, ok. 

Diante desta busca incessante de algumas pessoas em serem (sempre) fontes, em darem furo, em compartilharem em primeira mão uma conversa até então reservada entre quatro paredes, faz com que nós, assessores de comunicação, muitas vezes sejamos excluídos do processo todo. Estou tentando não generalizar que os "fofoqueiros", com o perdão da expressão, são sempre da comunicação. Mas é pra gente que sobra. A informação pode ter saído lá de cima da cadeia, mas é o mero jornalista que levará a culpa para 90% dos que opinam. 

Sabe aquele ditado que a "comunicação é sempre a última a saber"? Entende agora por que ele foi criado? Levamos a fama, meus caros. E muitas vezes, com razão. Porque ainda temos muito colegas que gostam deste jogo. É uma troca, eu sei. Tenho o privilégio de ter tido muitas aulas com a Giane Guerra sobre a importância de boas fontes para o trabalho de uma colunista. Mas é preciso cautela.

O que talvez eu queira explicar aqui é que não trabalhamos exclusivamente para as redações. Fazer parte de uma equipe de comunicação é trabalhar para diferentes públicos. Por vezes, estrategicamente, um grupo X precisa saber antes da maior colunista Y estampar na capa da sua rede social a informação. Por inúmeros e diferentes motivos, como políticos (até mesmo a da boa vizinhança), acordos, vaidade, interesses e hierarquia, só para exemplificar alguns. Quando a gente entende que comunicação é um todo e que a imprensa compõe esse todo, mas não o representa sozinho, as coisas se encaixam melhor. Esse toma lá dá cá pode ser um tiro no pé. 

É preciso um pouco mais de parceria, de comprometimento, de noção de confiança e de saber guardar a língua dentro da boca para não falar demais ou os dedos dentro do bolso para não digitar sem lei. Estamos, nós mesmos, vulgarizando a nossa profissão como meros repassadores de informações. Levamos a culpa pelo outro, culpamos alguém sem saber ao certo quem foi, já que todos nos tornamos suspeitos. Neste duelo de interesses, inteligente seria se fortalecêssemos o da nossa categoria para que sejamos valorizados como deveríamos. 

Autor
Grazielle Corrêa de Araujo é formada em Jornalismo, pela Unisinos, tem MBA em Comunicação Eleitoral e Marketing Político, na Estácio de Sá, pós-graduação em Marketing de Serviços, pela ESPM, e MBA em Propaganda, Marketing e Comunicação Integrada, pela Cândido Mendes. Atualmente orienta a comunicação da bancada municipal do Novo na Câmara dos Vereadores, assessorando os vereadores Felipe Camozzato e Mari Pimentel, além de atuar na redação da Casa. Também responde pela Comunicação Social da Sociedade de Cardiologia do RS (Socergs) e da Associação Gaúcha para Desenvolvimento do Varejo (AGV). Nos últimos dois anos, esteve à frente da Comunicação Social na Casa Civil do Rio Grande do Sul. Tem o site www.graziaraujo.com

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