Entre lives, rotina e observações

Por Grazielle Araujo

22/04/2020 18:19

 Em tempos de confinamento, as "lives" quase que diárias estão sendo uma grande sacada. Todos se entretém, alguns ganham dinheiro, outros tantos doam. Uns se destacam como apresentadores e aqueles que viram que nasceram "apenas" para cantar. Nem todo cantor sabe ser desinibido sem plateia. Observação um. Nem todo artista domina tecnologias. Observação dois. A constante rotina de produção (tão bem feita) que acostuma a pessoa a chegar para "passar som" e depois entrar no palco). Observação três. Muita gente domina melhores ângulos de selfie e muitas outras ainda não sabem ser tão familiares diante de uma pequena câmera. 

 "Eu achei que esse negócio de live era fácil", disse o Luiz Carlos, vocalista do eterno Raça Negra, visivelmente nervoso e sem graça enquanto recebia orientações de alguém pelo ponto eletrônico. O cara sempre soube cantar e embalar para multidões, casais apaixonados, recém-solteiros e tantos outros que se encantam com tantos clássicos dos anos 90. Nas gravações para TV, sempre tem apresentador, teleprompter, bastidores e toda aquela organização ímpar. Tudo dominado. Daí o mundo inteiro - via YouTube - se conecta pra ver o encontro virtual.     

 Ele pode nem ter o alcance de quanta gente está assistindo e também não se deu conta que a câmera está o tempo todo ali, não há edição. Tá "ao vivo" em tempo integral, sem intervalo. E ainda precisa fazer publicidade de "app", ler comentários do "Twitter" com #, ligações de vídeo em tempo real, número de toneladas de alimentos, empresas que estão doando a todo instante (ufa!), quantas visualizações, comentários na transmissão, WhatsApp de famosos. Parecia fácil? Ao escrever essas últimas linhas perdi o ar em pensamento. Talvez um mestre de cerimônias seria a solução mais inteligente (e essa galera tá aí precisando retomar o trabalho já que os eventos estão suspensos). E faltou o detalhe que ele estava longe da banda, se comunicando por fone, com roteiros diferentes. Rendeu inspiração para essa semana. 

 Com microfone na mão, o cantor precisa virar multifunções. Sandy e Junior são incomparáveis e, por isso, um exemplo de excelência. Júnior ainda teve o cuidado de dizer que a produção foi bem "caseira", o Lucas Lima toda hora se cobrando para acertar o tom, Xororó de produtor. Foram quase três horas de entretenimento no sofá da sala, sem pausa. 

 Estamos vivendo muito "o novo" e com ele conhecendo ferramentas de uma geração com tecnologias incríveis ao alcance das mãos. Muitos se adaptam, alguns facilmente e outros com mais afinco. Estamos todos aprendendo muito com tudo isso. Quantas ferramentas descobri com o Home Schooling, ligações, videoconferências, lives. Sem contar o empenho de tanta gente em praticar o bem, trazendo e entregando o que pode, o que possui dom, o que sabe ousar. Tem quem costure, quem cozinhe, quem faça crédito bancário, quem comunique e quem transporte. Vamos saber ser pacientes com aqueles que estão aprendendo, conscientes que todos estamos usando mais telas e não há problema imediato nisso. O confinamento também está permitindo mais conexão - com os de casa e os de fé.