Erva de raiz

Por Fraga

Erva daninha na lapela, a sugerir disposição e descaso, cavalheirismo e indiferença.

Erva daninha cevada na cuia, pro amargo amargar bem amargoso.

Erva daninha na floricultura, dali pro adorável buquê da noiva adorada ou pra depositar no túmulo de alguém inesquecível.

Erva daninha na cozinha, inesperado condimento pro cozimento condizente com a falta de comedimento do cozinheiro.

 

Erva daninha entre sinônimos para grana, cascalho, verba, tutu, bufunfa, caraminguá, gaita, pila, tostão, capim, metal.

Erva daninha que o paisagismo com ou sem conceito estético aceita como contribuição natural ao design do mix das tantas variedades de gramas.

Erva daninha atrás da orelha, mais poderosa que o arruda mais poderoso, a espantar azares aziagos, olho grande e mau olhado, inveja e cobiça alheia.

 

Erva daninha na mesa, insinuada num arranjo de natureza morta com legumes e verduras, quem sabe uma composição impressionista de inspiração hortifrutigranjeira.

Erva daninha, pro chá no lugar da erva cidreira, da carqueja, do capim cidró, de camomila e outros chás, inclusive o de banco.

Erva daninha, o mais novo tom de pantone, tão verdoso e tão garboso que logo vira xodó na paleta fotoxopada.

Erva daninha vingando na horta, brotando no meio de alfaces, couves e repolhos, vicejando mais que agrião, espinafre e rúcula.

 

Erva daninha, espécime vegetal nem tão danoso e que deve morrer de vergonha ao se saber comparada com as ervas daninhas de gravata da Câmara e do Congresso. Essas sim ervas daninhas, eleitas e reeleitas, especialistas em destruir a fertilidade nacional. Ervas daninhas corporativistas, corruptoras e corruptíveis. Ervas daninhas que afetam até mesmo a esperança remota de algo novo surgir e fazer minguar as ervas daninhas tradicionais. Ervas daninhas da causa própria, imunes e impunes, esse eterno verde daninho no pendão da minha terra.

 

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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