Escritores & Enigmas

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Os homens deviam ser o que parecem ou, 

pelo menos, não parecerem o que não são."

 

William Shakespeare.

 

De tempos em tempos, emergem as polêmicas sobre grandes escritores da literatura mundial. Sempre haverá historiadores ou críticos literários com tempo e disposição para lançar dúvidas sobre um William Shakespeare ou um Miguel de Cervantes. Um deles é Ilia Guililov, um pesquisador russo que alega não ter encontrado registros oficiais do nome Shakespeare nas escolas inglesas da época, mas grafias diferentes de seu nome, como Shakpeare, Shake-Speare, etc. Seriam meros jogos intelectuais, mas que podem revelar escritores empenhados em ocultar ou dissimular sua condição humana.

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O bardo William Shakespeare nasceu em Stratford-upon-Avon em 1564 e morreu na mesma cidade, 52 anos depois, no mesmo dia de seu nascimento, em 1616. Teses e laboriosas pesquisas se esforçaram em resolver uma questão intrigante: teria sido mesmo ele o autor das peças teatrais que levam seu nome? As dúvidas devem ter começado quando seu amigo Ben Jonson disse que Shakespeare tinha apenas instrução rudimentar, sem saber latim ou grego. No entanto, sua obra demonstra um amplo conhecimento dos clássicos gregos e da história romana. Ao mesmo tempo, indica que Shakespeare era bem informado sobre a etiqueta nas cortes européias, linguagem náutica, falcoaria, caça, termos militares e jurídicos. Além disso, usava um vasto e rico vocabulário, algo pouco comum na época. Seu contemporâneo, o poeta John Milton empregou no máximo 8 mil palavras. E hoje em dia, um inglês de boa educação raramente usa em seu dia-a-dia não mais do que 4.000 palavras. E o vocabulário de William Shakespeare excedeu as 20 mil palavras.

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Outro enigma se encontra na biografia de Miguel de Cervantes Saavedra, o autor do clássico 'Don Quijote de la Mancha'. Pouco se sabe sobre sua vida, a não ser que viveu entre 1547 e 1616 e que foi um personagem que cultivou mistérios e segredos sobre si mesmo. E até hoje, não se conhece o dia ou mesmo o mês de seu nascimento, de sua morte, nem onde está sepultado em Madrid. Pesquisadores percorreram os caminhos de Dom Quixote e Sancho Panza pela Andaluzia e por La Mancha, tentando localizar os moinhos de vento e os gigantes enfrentados pelo Cavaleiro da Triste Figura. Apenas encontraram extensas planuras andaluzas e manchegas, solitários pastores de cabras, povoados perdidos no tempo e estradas desertas na hora da siesta.

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Seria difícil contar os acadêmicos, historiadores e pesquisadores que se debruçaram sobre 'Don Quijote?' em busca de respostas. Um estudo recente, produzido pela Universidade de Sevilha, uma das mais antigas de Espanha, destaca a grande riqueza linguística do texto de Cervantes. Ele se valeu de expressões populares da época nos diálogos que Don Quixote tem com seu companheiro Sancho Pança. Muitas mantém os mesmos significados mesmo depois de 400 anos:



"O pior efeito do medo é perturbar nossos sentidos e

fazer que as coisas pareçam o que não são."

"Para o bom entendedor, meia palavra basta."

"À noite, todos os gatos são pardos."

"Não tome gato por lebre."

" Nem tudo que reluz é ouro."

 

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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