Êxodo digital

Por Flávio Paiva

Há um tempo, muito se falou no êxodo rural, basicamente pessoas vindas do campo para as cidades grandes, em busca de oportunidades melhores. Hoje já se pode tranquilamente falar em êxodo digital.

Basicamente, é a saída de pessoas do ambiente de toxicidade digital. Isso não quer dizer abandonar toda vida digital existente, porque seria impraticável. Temos uma vida totalmente dependente do digital e isso é ok. O que não é ok é o fator tóxico tanto de redes sociais quanto de invasões digitais, seja através das próprias redes, whatsapp, duas das outras formas invasivas.

Da "porteira pra dentro" de cada um, a pessoa decide o que deixar ou não entrar. Não é bem assim. O ser humano historicamente se perde nos processos. Ou é muito demorado para se dar conta de que alguma coisa está fora da nova ordem mundial. E nesse durante, como eu chamo, mora o problema. Porque são horas e horas gastas sem nenhum sentido, sem produção de nada (pode ser produzir momentos de relaxamento, por exemplo). 

Ou, pior ainda, horas tensas. E por que tensas? Porque  são horas dedicadas consciente ou inconscientemente à angústia de postar, de fazer reels, vídeos, de estar presente. 

Só que pode piorar: não bastasse isso, a pessoa pode entrar numa zona level 2 de tensão. Que é ficar na expectativa de curtidas, compartilhamentos, reações. Métricas que passaram a ser "o" significado da vida de muitos, aí que está o problema.

Como tenho notado de forma mais intensa esse movimento de saída das redes, do digital de um modo geral, vi que se trata de algo maior. Pode ser intoxicação, pode ser cansaço, podem ser os dois. Seja como for, está acontecendo e já numa escala bem considerável.

Mais uma vez: são as redes e o digital os culpados? Em parte sim, em parte não. Já houve livros, filmes e documentários mostrando como redes sociais são pensadas e como funcionam para criar uma dependência, uma adição, vício mesmo. Sobre isso claro que deve haver ação da sociedade civil e governamental organizada.

Já em outra parte, não são. Porque existe para muitas e muitas pessoas o momento de consciência, a opção de entrar ou não nessa vibe alucinada do digital. Aquele momento de pensar "e se?". Só que as pessoas, muitas mas não todas, apretam o botão do play. E se atiram nos braços do digital.

Pra terminar, o de sempre: muita calma nessa hora. Nas análises, nas conclusões e no mergulho. Digital.

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