Exposição de motivos

Por Fraga

Nesse episódio de censura à exposição Independência em Risco, cada parte envolvida tem suas justificativas. E para que não sejam esquecidas as partes admiráveis e as partes detestáveis, é bom listar quem é quem nesse fuzuê todo.

Assim, fica claro quem é a favor do pensamento iluminado e quem torce pelo obscurantismo.

Cartunistas - Todo artista gráfico tem motivo de sobra para fazer plantão de opinião diante de mais um governo antidemocrático. A cada dia, a cada perigosa investida do bolsonarismo contra as liberdades, cada cartunista e cada chargista tem a obrigação de provocar esse governo autoritário e inculto, burro e militarista: em veículos de comunicação, nas redes, em murais, em qualquer superfície, devem denunciar o inaceitável. E quanto mais arbitrário for um governo, mais críticos e mais cáusticos devem ser seus traços, mais motivado seu ímpeto criador.

Grafar - Como entidade agregadora de profissionais do risco, a Grafistas Associados do Rio Grande do Sul mantém desde 1980 o dever de agir e reagir ao cenário social e político do país. Assim, nada mais natural que a proposta da associação de uma exposição coletiva e de temática reativa ao entreguismo do governo Bolsonaro. Nada melhor que intitular Independência em Risco. E nada mais óbvio que a oportunidade da data nacional, o libertário 7 de setembro. Também nada mais lógico que buscar o aval de um espaço público para abrigar as charges e os cartuns.

Câmara Municipal - Fez o que se esperava que fizesse uma casa do povo: ser aberta e receptiva à proposta da Grafar. Receptividade muito bem traduzida no apoio motivado e imediato do vereador Marcelo Sgarbossa à iniciativa dos chargistas e cartunistas grafarianos. E daí, no dia e hora aprazados, para a felicidade geral da nação do humor inaugurou-se a exposição. Que, para a infelicidade da cultura brasileira, não chegou a ficar exposta 24 horas. É aí que entra um protagonista antagônico à liberdade de expressão.

Mônica Leal - a presidente da Câmara de Vereadores, na posse das suas risíveis faculdades, fez o que fazem todos os reacionários diante do humor: mobilizou todo seu mau humor. Não gostou das críticas ao deprimente da república. E vetou a exposição, que foi retirada do espaço público e, com os painéis acorrentados, escondida da visão da sociedade. A motivação da vereadora Mônica - leal ao bolsonarismo e desleal à cultura - é compreensível: foi criada por um pai reaça para ser uma filha reaça. E a genética cumpriu seu papel, que nesse caso foi censurar os desenhos que, na sua ótica, "desrespeitam" Bolsonaro. Logo ele, que com seus preconceitos, racismo e homofobia não respeita minoria nenhuma e tem sido ameaça constante à democracia brasileira.

Juristas Pela Democracia - Em meio à baita repercussão à censura, uma liminar devolveu os desenhos ao espaço público e o bom senso ao país. Pelo menos até que novo episódio ocorra, seja lá qual for o motivo dos reaças.

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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