Falo com...
Por Marino Boeira


Falo com Érico Veríssimo - escritor - 1905/1975.
Érico, para começar essa conversa, eu falo uma frase ou uma simples palavra e você diz o que elas significam para você.
Felicidade.
"Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente."
Qual a diferença do amor para o ódio?
"O amor está mais perto do ódio do que a gente geralmente supõe. São o verso e o reverso da mesma moeda de paixão. O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença."
Solidão, o que significa?
"A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos."
Inteligência?
"A inteligência é o farol que nos guia, mas é a vontade que nos faz caminhar."
Mário Quintana?
"Descobri outro dia que o Quintana, na verdade, é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.
(Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias)."
Érico, vivemos hoje numa sociedade de consumo. O que você pensa dela?
"O objetivo do consumidor não é possuir coisas, mas consumir cada vez mais e mais a fim de que com isso compensar o seu vácuo."
Qual a sensação que você tem ao terminar de escrever um livro?
"Em geral, quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso 'Não era bem isto o que queria dizer'."
Érico, seu livro mais famoso é 'O Tempo e o Vento', o seu grande personagem, o Capitão Rodrigo, que chega naquele boteco de Santa Fé, desafiando todos, gritando para quem quisesse ouvir - Buenas e me espalho! Nos pequenos dou de prancha e nos grandes dou de talho. Como você o descreve no seu livro?
"Quando o Rodrigo Cambará surge no povoado de Santa Fé, em outubro de 1828 - a cavalo, chapéu caído na nuca, cabeleira ao vento, violão a tiracolo - parece chamar encrenca. Com a patente de capitão, obtida no combate com os castelhanos, é apreciador da cachaça, das cartas e das mulheres."