Falo com...

Por Marino Boeira

Falo com Oscar Niemayer - Arquiteto - 1907/2012.

Você é considerado o maior nome da arquitetura brasileira, o criador de Brasília. Como você enxerga o seu trabalho?

"Meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância pra mim. Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor, o resto é conversa fiada. O mais importante não é a arquitetura, mas a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar."

Mesmo assim, muito se discute a sua concepção da arquitetura, as curvas no lugar das retas. Por que essa preferência?

"Se a reta é o caminho mais curto entre dois pontos, a curva é o que faz o concreto buscar o infinito. Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo - o Universo curvo de Einstein."

E os vãos livres?

"Não entendo quem tem medo dos vãos livres. O espaço faz parte da arquitetura."

Deixando de lado a Arquitetura, o que você acha que falta no ensino brasileiro?

"Toda escola superior deveria oferecer aulas de Filosofia e História. Assim fugiríamos da figura do especialista e ganharíamos profissionais capacitados a conversar sobre a vida."

Qual o seu segredo para uma vida tão longeva?

"Existem apenas dois segredos para manter a lucidez na minha idade: o primeiro é manter a memória em dia. O segundo eu não me lembro. Amo a vida e a vida me ama. Somos um casalzinho insuportável."

Em que você acredita?

"Acredito na natureza: tudo começou não se sabe quando nem como. Eu bem que gostaria de acreditar em Deus. Mas não. Sou pessimista diante da vida e do homem."

Sua esperança?

"Prefiro pensar que um dia a vida será mais justa, que os homens não se olharão a procurar defeitos uns nos outros. Que haverá sempre a ideia de que em todos há um lado bom. Nesse dia, será com prazer que um procurará ajudar o outro. O homem tem de viver dentro da verdade, saber que não é importante. A disseminação dessa crença levaria o homem a uma posição mais modesta."

E qual o caminho para chegar lá?

"Enquanto houver miséria e opressão, ser comunista é a minha decisão."

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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