Falo com...
Por Marino Boeira


Falo com Hannah Arendt - filósofa política alemã - 1906/1975.
Cada vez mais o pensamento crítico é visto como um problema nas sociedades de massa. O que a senhora pensa disso?
"Em nome de interesses pessoais, muitos abdicam do pensamento crítico, engolem abusos e sorriem para quem desprezam. Abdicar de pensar também é crime."
Sobre o ato de pensar, o que a senhora diz?
"Estar em solidão significa estar consigo mesmo; e, portanto, o ato de pensar, embora possa ser a mais solitária das atividades, nunca é realizado inteiramente sem um parceiro e sem companhia."
O que é a escola?
"A escola não é de modo algum o mundo, nem deve ser tomada como tal; é antes a instituição que se interpõe entre o mundo e o domínio privado do lar."
E a política?
"A política trata da convivência entre diferentes. Os homens se organizam politicamente para certas coisas em comum, essenciais num caos absoluto, ou a partir do caos absoluto das diferenças."
E a mentira?
"As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista."
Os tempos atuais?
"Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança."
A senhora fez uma frase sobre o julgamento de Adolf Eichmann, em Jerusalém, em 1961, quando falou pela primeira vez sobre o conceito da "banalidade do mal'. O que ele significa?
"A banalidade do mal é a mediocridade do não pensar, e não exatamente o desejo ou a premeditação do mal, personificado e alinhado ao sujeito demente ou demoníaco. Como postura política e histórica, e não ontológica, a banalidade do mal se instala por encontrar o espaço institucional, criado pelo não pensar. Eichmann não é alguém perverso ou doentio, sequer alguém antissemita ou raivoso, mas tão somente alguém que cumpre ordens, incapaz de pensar no que realmente fazia, mantendo o foco somente no cumprimento de ordens."