Falo com...

Por Marino Boeira

Falo com Paulo Francis (Franz Paul Trannin da Mata Heilbron) - jornalista, crítico de teatro e escritor - 1930/1997.

Paulo Francis, você, como jornalista dos principais jornais do Rio e São Paulo, no Pasquim e no programa Manhattan Connection. foi sempre um crítico ácido. O que o levou a ser assim?

"Gosto que me leiam e saibam o que acho das coisas. É uma forma de existir. Trabalho é a melhor maneira de escapar da realidade."

Mas você não leva muito a sério o Brasil e os brasileiros.

"Talvez o Brasil já tenha acabado e a gente não tenha se dado conta disso."

O problema seria que as pessoas leem muito pouco?

"Quem não lê, não pensa, e quem não pensa será para sempre um servo."

Você é um leitor voraz, mas as pessoas criticam suas contradições.

"Qualquer pessoa inteligente é contraditória."

Hoje se fala muito na contribuição da cultura africana para o Brasil. O que você pensa disso?

"A descoberta do clarinete por Mozart foi uma contribuição maior do que toda a África nos deu até hoje."

E a contribuição dos baianos para a música brasileira?

"Os baianos invadiram o Rio para cantar 'Ó, que saudades eu tenho da Bahia?'. Bem, se é por falta de adeus, PT saudações"

E o futebol?

"Eu acho esporte uma das coisas mais chatas que o ser humano já inventou. Se os brasileiros se interessassem um décimo por política, como se interessam por futebol, nós teríamos um País bem diferente e melhor.''

Quem você odeia?

"Só se odeia, quem se respeita."

O que você pensa sobre o ex-presidente José Sarney?

"Dizem que escrever é um processo torturante para Sarney. Sem dúvida, mas quem grita de dor é a língua portuguesa."

Por que você é um pessimista?

"O otimista é, antes de tudo, um mal informado."

Para encerrar, como foi sua iniciação sexual?

''Fui iniciado por uma empregadinha doméstica. Tinha o mesmo nome de minha mãe: Irene. Freud explica.''

 

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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