Falo com...

Por Marino Boeira

Falo com Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto - Pablo Neruda - poeta, diplomata, político e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura - 1904/1973.

Neruda, você é o poeta que cantou com lirismo o amor, mas também o que sempre defendeu em seus escritos a luta dos oprimidos contra os opressores e foi um comunista militante durante toda a sua vida. Esses dois sentimentos têm ligação entre si?

"A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem."

Vamos falar primeiro sobre o amor, sempre presente em suas poesias. Como ele é para você?

"Se sou amado, quanto mais amado, mais correspondo ao amor. Se sou esquecido, devo esquecer também, pois o amor é feito espelho: tem que ter reflexo."

O amor é passageiro?

"Dois amantes felizes não têm fim, nem morte, nascem e morrem tanta vez enquanto vivem, são eternos como é a natureza."

Neruda, seu primeiro grande sucesso literário foi '20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada', de 1924. Você sempre gostou de recitar esses poemas. Lembra de algum deles?

"Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio! Era a alegre hora do assalto e o beijo. A hora do estupor que ardia como um farol. Ansiedade de piloto, fúria de um búzio cego túrgida embriaguez de amor. Tudo em ti foi naufrágio!"

Como político, você mesmo nos piores momentos nunca perdeu a esperança de construir uma sociedade melhor.

"Poderão cortar todas as flores, mas não poderão deter a primavera".

Você, Neruda, foi senador e embaixador do Chile na França, mas mesmo nos seus discursos a poesia sempre esteve presente. Vamos lembrar dois deles. Primeiro a saudação a Luiz Carlos Prestes no estádio Pacaembu, em São Paulo, em 1947. O que você disse?

"Peço hoje um grande silêncio de vulcões e rios. Um grande silêncio peço de terras e varões. Peço silêncio à América da neve ao Pampa. Silêncio: com a palavra o Capitão do Povo. Silêncio: que o Brasil falará por sua boca."

Outra fala sua foi sobre a Guerra Civil Espanhola.

 "Generais traidores olhem minha casa morta. Olhem a Espanha dilacerada. Porém, de cada morte sai metal ardendo. Em vez de flores, de cada ferida da Espanha desperta a Espanha. Porém, de cada criança morta levanta-se um fuzil com olhos. Porém, de cada crime nascem balas que acharão um dia o vosso coração."

No seu Chile, mesmo com o reconhecimento do mundo inteiro pela sua obra como poeta, você foi um homem perseguido pelos poderosos. Por quê?

"O poeta que chamar pão de pão e vinho de vinho é perigoso para o agonizante capitalismo. Só o povo me é considerável. Só a pátria é minha condição. Povo e pátria manejam meu cuidado. Pátria e povo destinam meus deveres; E se logram matar o revoltado. Pelo povo, é minha pátria quem morre. É esse meu temor e minha agonia. Por isso, no combate ninguém espere que se quede sem voz minha poesia."

Finalmente, Neruda, qual é o segredo de escrever com qualidade?

"Escrever é fácil. Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca ideias."

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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