Feliz quem convive com um vira-lata

Por Márcia Martins

Para não dizer que não falei de flores e escrever sempre só sobre temas ásperos e polêmicos, como política, feminismo, sindicalismo e direitos humanos, hoje vou relatar a felicidade diária de quem convive com um vira-lata. E, ao mesmo tempo, prestar uma homenagem aos cachorros SRD (Sem Raça Definida), uma espécie animal que é a mais pura expressão do amor sem esperar nada em troca. Até porque, neste 31 de julho, é comemorado o Dia do Vira-Lata, um cachorro com características muito próprias, sem origem delimitada, normalmente uma mistura de duas raças, de tamanhos diversos e pelagens maravilhosamente coloridas.

Desde fevereiro de 2018, sou uma feliz tutora de um vira-lata que enche os meus dias de alegrias e travessuras. Quincas Fernando entrou na minha vida depois de uma perda muito dolorida de outro cãozinho, o Shih Tzu Dalai, que adoeceu repentinamente e partiu depois de dois meses de enfermidade. Profundamente abalada com a morte do Dalai, estava decidida a não adotar mais nenhum cãozinho, por saber que a dor de perdê-lo é imensurável. Até que quatro meses após me despedir do Dalai, fui cativada pelo olhar pedinte do Quincas num domingo de manhã durante um passeio pelo Brique da Redenção.

Somente quem tem a companhia de um vira-lata compreende a importância que esse cão sem raça definida adquire na vida de seu tutor ou tutora. O cachorro vira-lata é extremamente afetuoso, demonstra com brincadeiras e admiração a gratidão por ter sido acolhido, aprende com facilidade e é uma excelente companhia. Quem tem um vira-lata jamais estará sozinho. Ele segue o tutor ou a tutora pela casa inteira, fareja os seus passos, descansa o focinho sobre as suas pernas enquanto você lê ou vê televisão. Pode ser considerado a sua sombra porque estará sempre atrás de você. Faça chuva ou sol.

Ter um cão é cansativo. Não vou mentir. Dá um certo trabalho. Exige muita disposição. É necessário tempo livre para levá-lo aos passeios. Paciência para limpar o local dentro de casa onde ele faz as suas necessidades. Dedicação para cuidar da saúde do cãozinho. E uma folga no orçamento para o plano de saúde, remédios e vacinas, ração, roupinhas e banhos na Pet. Mas tudo é compensado quando o animalzinho agradece todo o carinho recebido com o amor que ele lhe dedica.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto QualiBest, indica que o vira-lata figura como o pet mais popular entre os brasileiros. Os dados revelaram que o animal está presente em pelo menos 41% dos lares no país. E eu, junto com minha filha e minha nora (uma vez que dividimos a guarda do Quincas Fernando), somos as felizes tutoras do cãozinho vira-lata amado e paparicado. Afinal, por ter duas casas, Quincas Fernando é sempre recebido com mimos e festa quando se inicia o período de guarda compartilhada numa das residências das tutoras.

Gosto demais de uma passagem do filme Marley & Eu que diz: "Para um cão, você não precisa de carrões, de grandes casas ou roupas de marca. Símbolos de status não significavam nada para ele. Um pedaço de madeira já está ótimo. Um cachorro não se importa se você é rico ou pobre, inteligente ou idiota, esperto ou burro. Um cão não julga os outros por sua cor, credo ou classe, mas por quem são por dentro. Dê seu coração a ele, e ele lhe dará o dele". Quincas Fernando me tornou especial, indispensável e extraordinária. Obrigada por tanto.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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