Glass door

Por Flavio Paiva

Com este escândalo dos hackers, que segundo consta, hackearam Sérgio Moro, o próprio presidente Bolsonaro e têm registros de inúmeras autoridades, fiz uma reflexão: como é sabido, o "concordo com os termos" de apps, sites, etc, faz com que estejamos naturalmente autorizando o controle de nossos dados.

São dados diversos, como localização, preferências (busca Google, por exemplo), compras, etc. Ou seja, estamos sendo hackeados com o nosso próprio consentimento, pois, para utilizarmos tal app, sempre vem a inevitável pergunta de se concordamos com os termos, numa total transparência consentida (relativa, apesar de tudo) dos nossos dados.

A transparência é uma questão essencial em organizações, startups, governos, etc. De uma certa maneira, ambientes de coworking (e mesmo se não o forem, que seja dentro das organizações)  começaram há alguns anos a derrubada de paredes, ambientes cada vez mais compartilhados e comuns, como forma de estimular a troca de ideias e também não ser possível esconder nada.

A questão de glass door, como tomo a liberdade de chamar aqui, é esta. Que mesmo que haja portas (algumas reuniões inevitavelmente requerem paredes e portas para algo um pouco mais reservado), que estas sejam de vidro, de tal forma que permitam a quem está de fora ver o que está acontecendo e também a quem está dentro ver o que ocorre lá fora e já explico.

Glass door é um conceito. Permite que a mente e os nossos olhos enxerguem o que está ocorrendo outside. Noutro dia, estive em um café, em que fiz uma reunião e depois aproveitei para ficar trabalhando, pois o local era agradável, bom café e atendimento, e fundamentalmente uma bela vista (pois era também um belo dia de sol, com natureza em volta), que estimula não apenas a sensação de bem estar, mas faz com que inevitavelmente ao enxergarmos a natureza, sejamos levados a nos conectar com outra dimensão que não apenas a do tablet, celular, note, seja lá o que você use.

A dimensão que pode permitir (desde que tenhamos internalizado o processo de inovação) criatividade, inovação, pois a natureza tem a sua espetacular beleza e também tem muito de caótica (embora seja um caos que funcione há milhões de anos). Isto serve para dar uma desordenada no andamento mais retilíneo dos pensamentos, preocupações com prazos, entregas, etc. Mas esta desordem traz como resultado algo extremamente positivo.

Além disto, claro que há a sensação de bem estar, de naquele momento dividir um local em que as realizações tão grandes façam até com que nos sintamos um pouco menores, mas isto é bom. Refletir sobre a condição humana sempre faz bem. Mas não para que nos sintamos menores e sim para conseguir ver e sentir o incrivelmente grandioso do que fazemos parte. E sentir uma energia poderosa e renovadora, uma ligação em 220 volts que nem mesmo muita cafeína consegue fazer.

Não, não estou falando para você passar a tarde refletindo e esquecendo a vida. Ou sim. Alguns têm o ano sabático, Santiago de Compostela, seja o que for. Pode ser uma parte da tarde "sabática". Experimente por uma hora, meia hora que seja e veja o quanto este grandioso poder, esta energia trará resultado imediato na sua produtividade, tornando mais aberta, poderosa, certeira. Não esqueçamos o conceito de glass door, este verdadeiro poder.

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