Guerreiro das gôndolas

Por Flávio Dutra

14/10/2019 11:15 / Atualizado em 14/10/2019 08:57

(Vagamente baseado em fatos reais)

- Alguém viu o Hailander?

Quem pergunta é a Cyntha Prescila.

- Parece que tá lá no depósito.

Quem responde é Ricarlison.

- Não mesmo, vi o Hailander lá pros lados do vestiário.

A interferência foi da Kimberly

- Bah, este cara vive sumindo.

A queixa é do Uillian.

(- Já tá merecendo um corretivo)

O resmungo, quase inaudível, é do Dionathan.

- Este guri não tem mais jeito.

 O repique é da Qelly Maria

Vocês estão autorizados a pensar que o Hailander, o guri do supermercado, recebeu o apelido por causa do personagem dos filmes e séries Highlander, conhecido como o Guerreiro Imortal,  o escocês que, mesmo ferido mortalmente em combate, ressuscitava tempos depois. Nosso Highlander das gôndolas teria o dom de desaparecer durante o expediente para reaparecer tempos depois, lépido e faceiro, pronto para novas batalhas de empacotamento nas caixas.

Nada disso, no crachá do garoto mirradinho, de cara espinhenta e cabelo espigado que lembra o primeiro ministro inglês, está escrito Hailander José da Silva.

O pai era fã do herói, mas a mãe não abriu mão de juntar o nome  do pai, seu Zé, homem respeitável no pedaço, ao nome do guri, que não fez jus à fama do avô nem à coragem do Highlander, mas tão somente à capacidade de sumir e reaparecer. Para não dizerem que não tem nada mais a ver com o personagem, o garoto é meio vesguinho como Cristofer Lambert, o Highlander original. Aliás, por pouco não recebeu o nome de Kristobert em homenagem ao ator, mas a mãe achou que aí já era um exagero.

Quem revela esses histórico sobre o  garoto é o gerente do mercado, um sujeito simpático e amigo da família, de nome estranho para aquele ambiente:

- João Carlos da Silveira, às suas ordens.