Guia de etiqueta para boa convivência nas redes sociais

Há algum tempo, escrevi aqui no portal sobre a necessidade de boas maneiras em situações rotineiras, a partir de acontecimentos observados nos dias de chuva em Porto Alegre, em que as pessoas parecem que perderam a compreensão do que é viver em sociedade. Falei sobre a briga de guarda-chuvas e sombrinhas e da guerra deles com os pedestres providos ou desprovidos de tais equipamentos. E sobre o desrespeito com quem não os levou para a rua e disputa um espaço embaixo de marquises ou assemelhados com aqueles que têm os guarda-chuvas e sombrinhas. Lembro que afirmei, na época, que a necessidade de adotar boas maneiras poderia ser estendida para as atitudes em supermercados, cinemas, filas em bancos, enterros e celulares em espetáculos culturais.

Pois, na última semana, com a prisão do ex-presidente Lula e as minhas postagens de cunho contrário ao fato na minha página do Facebook sendo invadidas por internautas que não concordam com as minhas posições, cheguei à conclusão que é urgente também um guia de etiqueta e boas maneiras nas redes sociais. Não que eu seja uma especialista no assunto. Confesso inundada de vergonha (hashtag ou emotion cara vermelha) que volta e meio chuto o balde, ponho o pé na jaca e perco as estribeiras. Mas me policio para tentar exercer ao máximo algumas regras de boa convivência e ser minimamente educada nas redes sociais. A recíproca, no entanto, nem sempre é verdadeira.

No mundo das redes sociais, todos os habitantes são muito felizes, gozam de excelente estado de saúde, mostram-se extremamente satisfeitos se estão sozinhos ou se admitem estar num relacionamento sério com parceiros ou parceiras e, principalmente, assumem sem medo de serem taxados de qualquer adjetivo pejorativo, suas paixões futebolísticas ou partidárias. Pois aí que reside o perigo. Neste cenário político que dividiu-se entre coxinhas e petralhas, cuja categoria eu me incluo com muita honra, convém que cada um respeite a opinião do outro, uma vez que o proprietário de uma página da rede social postou sua posição e a mesma não chega a ser uma unanimidade.

O internauta que discorda pode até comentar na referida postagem que não concorda e coisa e tal. Mas sem apelar para ofensas, desaforos ou termos sabiamente escritos, naquele contexto, com o intuito de fomentar uma discussão. Se o oponente dispõe (é o que parece uma vez que está comentando no feice, no insta ou sei lá o quê) instrumentos seus nas redes sociais, porque não utiliza do seu espaço para escrever a sua posição? Parece tão mais lógico e, por mais que possa parecer contraditório, mais democrático. Admito desconhecer se existe uma democracia particular para as redes sociais. Mas no meu ponto de vista, e pode sim ser ele um tanto radical e errôneo, nas minhas páginas quem manda sou eu.

Quem me conhece um pouquinho só que seja, do universo das redes sociais, do convívio particular, dos locais de trabalho ou da militância política, sindical ou feminista, sabe que nunca me omiti, que nunca me escondi, que sempre tive um lado, que assumi minhas ideologias e andei pelos cantos empunhando a bandeira do Partido dos Trabalhadores (PT). Logo, desde a quarta-feira, 4 de abril, quando foi julgado o habeas corpus do ex-presidente Lula, não estou no meu juízo perfeito (se é que alguma vez estive). Vivo sem sono, sem vontade de nada, sem ânimo e sem saber como será o dia de amanhã. Acredito seja uma sensação compartilhada com companheiros e companheiras petistas.

Como sempre deixei clara e pública a minha opção partidária, não deveria ser surpresa para os que me seguem a minha indignação com o julgamento do habeas corpus e com a posterior prisão de Lula. E manifestei isso nas minhas postagens no Instagram e no Facebook. Tenho no feice amigos e amigas do peito, amigos e amigas simplesmente, colegas de profissão, colegas de partido, de militância e de sindicato, poetas e conhecidos das redes ou de alguma relação minha que solicitaram seguir a minha página. Sempre aceitei o pedido de 'amizade' por entender que tal pessoa queria conhecer um pouco e até usufruir (tipo "tô me achando") das minhas postagens sobre política, poesia, feminismo, amor de mãe e cuscos.

Uma vez que tal pessoa fosse detentora de uma ideologia diferente da minha jamais invadi a sua página para dizer ao contrário, mesmo que eu tenha conteúdo para isto. Democraticamente solicitei que a mesma atitude fosse adotada nas minhas postagens. Pois não é que, justamente as pessoas que não têm a mínima ligação afetiva, profissional ou qualquer laço maior comigo, se acharam no direito de entrar nas minhas postagens e bradar: "Chega petralha" ou "a ditadura petista acabou" ou "finalmente prenderam o cachaceiro". Mas quem deu autorização para baixar o nível? Quem disse que a minha página é depósito de raiva e recalque? Quem permitiu que alguém use o meu Ibope (sim porque tenho muitos seguidores e seguidoras) para propagar estas ideias?

Logo, adotei, desde a prisão do Lula, uma nova prática e criei o meu Guia de Etiqueta para Boa Convivência nas Redes Sociais. Não aceitarei mais ninguém que eu não conheça ou que não venha com indicação muito avalizada e talvez atestado de bons antecedentes. Não permitirei mais desaforos, ofensas e similares nas minhas postagens. Passei a colocar toda postagem política apenas para amigos (não são mais públicas). Vejam bem: não estou me fechando às críticas. Apenas exijo que eles sejam feitas com respeito e, no mínimo, com inteligência. E não tenho termômetro para medir tamanho de dor. Sim, porque certa vez manifestei uma saudade de minha mãe e uma criatura escreveu: "a tua dor não é nada, o que dói mesmo é perder um filho". Sem mais. Apenas um pedido de desculpa pelo tamanho da coluna. Mas precisava.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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