IN FORMA

Por Marino Boeira

10/01/2024 11:52
IN FORMA

A semana começou com um ato político em Brasília apresentado como sendo em defesa do chamado Estado Democrático de Direito. O presidente Lula da Silva, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco; do STF, Luís Roberto Barroso; do TSE, Alexandre de Moraes e da PGR, Paulo Gonet, todos foram unânimes em ressaltar duas coisas: primeiro, em 8 de janeiro de 2023, o Brasil esteve ameaçado por um golpe de estado; e segundo, os autores daquela imensa baderna em Brasília serão punidos com rigor.

Obviamente, fica um pouco difícil acreditar que aquele pessoal que promoveu um enorme quebra-quebra nas sedes dos três poderes em Brasília, estivesse preparando um golpe de estado. A nossa memória mais recente de um golpe de estado foi a de 1964 (há 60 anos). Quem viveu aquela época ou leu sobre o ocorrido naquela ocasião, sabe que o golpe começou a ser preparado há muito tempo antes e se acelerou depois do chamado comício da Central do Brasil, no dia 13 de março, quando as chamadas Reformas de Base foram anunciadas pelo Presidente Goulart, o que motivou a unificação de todas as forças golpistas do país: o segmento militar, a mídia, a Igreja Católica e a embaixada dos Estados Unidos.

No ano passado, além daqueles bagunceiros de Brasília, quem estaria urdindo o golpe? Possivelmente, setores das forças armadas, mas não elas unidas como em 64, mas sim alguns grupos, mais os bolsonaristas derrotados eleitoralmente. Talvez o mais provável fosse a intenção dos denominados golpistas de levar o Presidente Lula a pedir o apoio dos militares através da tão falada GLO (Garantia da Lei e da Ordem) e ficar sob a tutela deles.

Essa semana se soube que quem bateu na mesa e impediu que fosse seguido esse caminho, quando a cúpula do governo estava em Araraquara e não em Brasília, foi a primeira dama Janja da Silva, que acompanhava na ocasião o presidente Lula.

Agora estamos todos comemorando que o Brasil continua sendo um Estado Democrático de Direito e os que atentaram contra ele em 8 de janeiro de 2023 serão severamente punidos. O presidente Lula disse isso em seu discurso, mas quem falou com mais rigor sobre isso foi o ministro Alexandre de Moraes. Fiel ao seu estilo de falar curto e grosso, Xandão pediu uma legislação específica para acabar com o que chamou de ?discurso de ódio? - outro chavão que todos repetem ? nas redes sociais.  

O difícil se isso acontecer será identificar o que é um discurso de ódio de uma crítica mais dura dirigida às autoridades, talvez até ao Supremo. Certamente, se isso acontecer, será um dos ministros do Supremo que vai assumir a tarefa de identificar o que é discurso de ódio de uma crítica um pouco mais agressiva.

Em todo o caso, terminadas as comemorações e o Estado Democrático de Direito mais uma vez, fica para o governo do Presidente Lula a responsabilidade de começar a fazer alguma coisa para resolver os problemas mais graves do País, depois de um ano perdido em longas e inúteis viagens internacionais.

Aliás, foi ele mesmo quem disse no seu discurso que fica difícil conscientizar os brasileiros sobre a importância da democracia, quando uma boa parte deles vive na miséria e quando os salários dos que conseguem algum trabalho são aviltantes.