A IMPARCIALIDADE DO JORNALISMO E AS MÍDIAS SOCIAIS
O mantra que a maioria dos jornalistas gosta de proclamar é a imparcialidade do seu trabalho. Nas escolas de Comunicação aprendem que esse é o grande objetivo da profissão. Será verdade, ou o jornalismo é mais uma narrativa a serviço de interesse de grupos ou classes sociais?
No início, com o surgimento da sociedade dividida em classes com interesses opostos, ele era uma arma para a divulgação das idéias de quem se opunha aos dominadores do momento.
Durante a Revolução Francesa os jornais de oposição ajudaram a mobilizar o povo contra a nobreza. Os mais importantes deles foram Le Pere Duchesne, de Jacques Hébert e O L´Ami Du Peuple, de Marat. Karl Marx divulgava suas idéias na Gazeta Renânia e Lenin e seus parceiros na Revolução Russa usavam o Iskra (Centelha) e depois o Pravda (Verdade) para pregar a revolução socialista.
Foi com a consolidação da sociedade capitalista, principalmente nos Estados Unidos, que os jornais primeiro e depois os outros meios de comunicação, adotaram esse caráter moderno de registro dos fatos sem tomar uma posição clara a respeito da sua validade.
É óbvio que ao assumir essa posição de não discutir a origem e a validade do status quo vigente, os jornais estavam validando essa situação. O grande exemplo desse tipo de jornalismo e o New York Times, cuja história é contada num livro exemplar "O Reino e o Poder: Nos Bastidores do The New York Times" que Gay Talese, publicou em 1969.
Atualmente, são as publicações nas redes sociais as que mais rompem essa ditadura do politicamente correto. Essa semana dois fatos tornaram isso mais evidente.
Primeiro foi a presença de Jair Bolsonaro mostrando nas redes sociais a tornozeleira eletrônica a que foi obrigado a usar por decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF e no dia seguinte a entrevista de Eduardo Bolsonaro, atualmente nos Estados Unidos, ao podcast Inteligência Limitada no qual ele admite explicitamente que gestionou junto à Casa Branca em favor da punição do ministro Moraes, hoje impedido por ação do governo Trump de viajar para os Estados Unidos.
No dia seguinte Moraes reagiu proibindo a presença de Jair Bolsonaro nas redes sociais.
Nessa guerra quem perde é o leitor, privado da possibilidade de, conhecendo todos os lados da questão, optar por aquela mais de acordo com a sua visão política.
Um dos poucos espaços que ainda restam para uma discussão para uma discussão franca e aberta dessa questão envolvendo a família Bolsonaro e o Supremo e mais especificamente o ministro Alexandre de Moraes é o programa Faixa Livre disponível no YouTube.
Na sua última edição, o apresentador Anderson Gomes dialogou com três professores universitários: João Cezar da Costa de Literatura Comparada da UERJ, José Fernando Júnior, de Direito Constitucional e Nildo Domingues Ouriques, professor de Economia da UFSC.
A rigor, os três apresentaram versões diferenciadas do significado do embate envolvendo os Estados Unidos, o Brasil, Trump, a família Bolsonaro e Moraes. O professor João Cezar vê o conflito como a oportunidade de uma união nacionalista em torno de Lula para enfrentar o imperialismo americano e seu aliado interno, a família Bolsonaro; professor José Fernando relativizou a importância e a independência do judiciário brasileiro no conflito, enquanto o professor Nildo diz que a crise é fruto da incapacidade de Lula em assumir a postura presidencial que o momento exige, o que amplia a atuação do judiciário no enfrentamento do bolsonarismo, que mesmo sem Jair Bolsonaro, só faz crescer.
No momento em que a mídia mais tradicional é incapaz ou não tem interesse em fazer uma análise mais profunda do que ocorre na política nacional ou internacional, são as mídias sociais, apesar das constantes ameaças de censura, que cumprem esse papel.