In forma (29/ 10/2025)

Por Marino Boeira

O NÃO ACONTECIMENTO

O acontecimento do ano, seria o encontro entre Donald Trump e Lula da Silva, quando o Golias norte-americano tentaria humilhar o David brasileiro, mas esse usando da sua reconhecida astúcia, derrubaria mais uma vez o gigante repetindo o episódio bíblico...

O roteiro era esse, pelos menos nas previsões da mídia brasileira, mas quem esperava por isso se frustrou com o que realmente foi visto.

Na distante Kuala Lumpur, capital da Malásia, o que se viu foi  um cordial encontro entre duas figuras folclóricas da política internacional, cada um dentro do papel que escolheram viver: Trump encarnando o Poderoso Chefão e Lula o de Robin Hood sul-americano, defensor dos fracos e oprimidos.

O que chamou a atenção nos registros fotográficos do encontro foi o ar de fastio de Trump, certamente mais preocupado com chineses e russos do que com brasileiros e latinos e uma certa ansiedade de Lula, parecendo preocupado com a possibilidade de que o norte-americano quisesse repetir com ele o que fez com Zelensky.

Objetivamente o motivo do encontro seria um pleito de Lula no sentido de que os Estados Unidos aliviasse a carga de impostos sobre produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano.

Trump não disse nem sim, nem não, optando pelo clássico "vou pensar no assunto", mas seus assessores já deixaram claro que os Estados Unidos vão querer uma contrapartida para isso e certamente não será pouca coisa.

Lula obviamente conhece muito bem aquele ditado de que não se fala em corda na casa de enforcado. Por isso não puxou o tema da Venezuela, mesmo que esse fosse o assunto do momento e o brasileiro gosta de falar em solidariedade latino americana.

Mas essa solidariedade fica para os discursos em casa diante dos companheiros do partido que acreditam em tudo que ele diz, Na frente do dono de um arsenal de bombas atômicas, uma armada poderosa e aviões de todos os modelos, sempre é bom falar em temas mais amenos, com uma pretensa amizade que há 200 anos uniria Brasil e Estados Unidos, ainda que isso seja algo que a História sempre desmentiu.

Em fim, mesmo abusando da contradição dos termos, dá para dizer que o grande e definitivo encontro entre Trump e Lula, quando muitas verdades seriam ditas pelo brasileiro na cara do norte-americano, não aconteceu.

Foi apenas uma conversa de dois velhos amigos que agora descobriram que sempre tiveram uma boa química entre eles.

Autor
Formado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi jornalista nos veículos Última Hora, Revista Manchete, Jornal do Comércio e TV Piratini. Como publicitário, atuou nas agências Standard, Marca, Módulo, MPM e Símbolo. Acumula ainda experiência como professor universitário na área de Comunicação na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e na Universidade do Vale do Rio do Sinos (Unisinos). É autor dos livros 'Raul', 'Crime na Madrugada', 'De Quatro', 'Tudo que Você NÃO Deve Fazer para Ganhar Dinheiro na Propaganda', 'Tudo Começou em 1964', 'Brizola e Eu' e 'Aconteceu em...', que traz crônicas de viagens, publicadas originalmente em Coletiva.net. E-mail para contato: [email protected]

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