Informa (19/02)
Por Marino Boeira

VAI PARA CUBA, VAI.
Fazer comparações entre países é algo sempre arriscado, mas tentador. Como explicar, por exemplo, que um pequeno país como Cuba, com cerca de 10 milhões de habitantes, com uma economia dependente da cana de açúcar, vivendo há mais de 60 anos um bloqueio criminoso dos Estados Unidos, conseguiu erradicar a pobreza e o analfabetismo e estabelecer o melhor padrão de qualidade nas Américas nas áreas de educação e saúde, enquanto
um país gigante como o Brasil, com quase 220 milhões de habitantes, com uma imensa variedade de produtos agrícolas , vive um grande atraso cultural e tecnológico e tem milhões de seus filhos incluídos nas estatísticas de pobreza absoluta?
A explicação mais óbvia é que Cuba fez o que o Brasil vem adiando há décadas, uma revolução social. Até 1959, Cuba era uma colônia de férias para os americanos ricos, com suas praias caribenhas, mas também com seus cassinos e seus prostíbulos, governada por políticos corruptos.
Em 1959, Fidel Castro, Ernesto Guevara e seus companheiros puseram fim a esse mundo e proclamaram uma nova independência de Cuba repetindo o que fez José Marti em relação aos colonizadores espanhóis.
Desde então suportam um feroz bloqueio econômico dos Estados Unidos e até mesmo uma invasão armada, determinada pelo "democrata" presidente Kennedy em 1962. Com tudo isso os cubanos construíram uma sociedade com altos padrões de qualidade de vida e um sistema democrático único no mundo.
Quando um presidente brasileiro será capaz de repetir a famosa frase de Fidel Castro - "Hoje milhões de crianças no mundo inteiro vão dormir na rua. Nenhuma delas é cubana" ?
Enquanto em Cuba foram criadas condições objetivas para o povo sair da pobreza, aqui no Brasil, principalmente durante os governos petistas, se usou a caridade cristã para amenizar o sofrimento de alguns poucos.
Os mal informados ou mal intencionados, costumam dizer que Cuba é uma ditadura e que mesmo com todas as conquistas sociais o país fica atrás do Brasil porque o povo não vive numa democracia como os brasileiros.
Cuba vive uma democracia direta muito mais evoluída que o Brasil e sem seus deputados, senadores ministros periodicamente envolvidos em grandes trapaças.
Ao contrário do Brasil e outros países, onde as eleições são fraudadas sempre pelo poder do dinheiro, Cuba elege periodicamente seus representantes ao poder legislativo - a Assembléia Nacional Popular - através de eleições onde as organizações populares e não partidos, elegem seus representantes para uma Assembléia Nacional que vai dizer ao Executivo quais medidas o povo quer que sejam tomadas.
Talvez o mais importante de tudo sejam os investimentos que Cuba fez na educação do seu povo. A primeira condição para se viver num sistema democrático é ter um povo educado e bem informado.
Esse mês se realizou em Havana a Feira Internacional do Livro. Mesmo com o bloqueio que dificulta o desenvolvimento da indústria gráfica, o governo cubano continua fiel aos objetivos de levar cultura ao povo através dos livros.
Segundo o professor Nildo Domingos Ouriques, que foi a Havana participar da feira, é possível comprar cerca de 30 livros de boa qualidade gastando menos de 50 reais porque, segundo ele "a Revolução Cubana erradicou o analfabetismo ao amanhecer do processo revolucionário. Em conseqüência, criou milhões de leitores que compram livros a preços inacreditáveis".
Embora, como disse no início, as comparações entre países nem sempre sejam totalmente justas, seria interessante que alguns políticos brasileiros, começando pelo Lula passassem algum tempo em Cuba, não a passeio como já aconteceu, mas sim para estudar o modelo cubano e aplicá-lo depois no Brasil.
Vai Lula, siga o conselho o conselho que o pessoal da direita gosta de dar: "Vai para Cuba, vai".