Justiça por todas nós
Por Márcia Martins

É muito difícil ser mulher e enfrentar os desmandos e a crueldade de uma sociedade patriarcal. Mas nós resistimos. É preocupante ser mulher e ouvir que estamos provocando com um jeito de rebolar, uma roupa decotada ou um vestido curto. Mas nós persistimos. É muito desafiador ser mulher e viver com medo de ser baleada, esfaqueada, violentada ou morta. Mas nós seguimos. É muito incerto ser mulher sem saber se estaremos vivas no dia de amanhã. Mas nós insistimos. Como já cantou Rita Lee na música Cor de Rosa Choque, "mulher é um bicho esquisito" e "o sexo frágil não foge à luta".
Pelo simples fato de existirmos, estamos, ainda em 2025, sujeitas a fúria de companheiros que não aceitam o fim dos relacionamentos. E assim crescem os números de feminicídios. Pelo simples fato de sermos mulheres, estamos, ainda em 2025, expostas a julgamentos se queremos frequentar espaços de lazer sozinhas, isto é, sem uma companhia masculina. E assim crescem os casos de assédio. Pelo simples fato de manifestar nossas posições e ter argumentos, estamos, ainda em 2025, sendo caladas nas reuniões de trabalho. E assim ocorre o "manterrupting" (quando homens interrompem nossas falas).
Neste cenário de desrespeito, preconceito, discriminação e violação dos nossos direitos, só em 2025, 45 mulheres já foram assassinadas por feminicídios aqui no Rio Grande do Sul. Nunca é demais lembrar que feminicídio é um crime de ódio baseado no gênero, definido como o assassinato de mulheres em violência doméstica ou em aversão ao gênero da vítima. E que o crime foi tipificado na Lei nº 13.104/2015, com mudanças significativas em 2024 (Lei nº 14.994) com penas mais severas (20 a 40 anos de prisão) e medidas de prevenção mais rigorosas.
A jovem Eduarda Carvalho dos Santos, 21 anos, ao que tudo indica, foi mais uma vítima desta violência que assedia, persegue, aniquila, deforma e mata as mulheres. Morta com 127 facadas (não errei o número ao teclar no notebook) pelo companheiro, 28 anos, e encontrada no dia 31, em Alegrete, ela engrossa a lista dos feminicídios no Estado. Segundo informou a Polícia, desde 2019 havia quatro registros de ocorrências envolvendo o casal, onde constam violência doméstica, ameaças e agressões (tapas e socos) contra a mulher. Em nenhum das ocorrências, o registro partiu da Eduarda e sim da Brigada Militar acionada pelo 190.
Por isso, é essencial que a mulher tenha uma rede de apoio, que denuncie, que não se cale, que não aceite a violência. E, principalmente, é urgente a implementação de políticas públicas efetivas que auxiliem as mulheres, como Delegacias Especializadas, Casas de Referência, vagas em creches, programas de geração de renda e uma rede de enfrentamento à violência contra as mulheres que seja mais do que um discurso.
Precisamos seguir firmes, com coragem e determinação. Para lutar sempre contra esta epidemia de violência contra os nossos corpos e nossas vidas. Por nenhuma de nós a menos. Justiça por todas nós.