Lá vamos nós novamente

Por Cris De Luca

 "Pela moral, pelos bons costumes e pela família". Quem nunca ouviu essa frase na vida? Nos últimos tempos, me parece que ela está cada vez mais presente em alguns discursos. Mas aí eu olho para os lados e parece que as mesmas pessoas que bradam essas palavras, não levem ela ao pé da letra. E por que voltar a esse assunto que volta e meia vem parar aqui novamente? Porque tem coisas beirando ao absurdo de tão surreais.

Comecemos pelos últimos episódios envolvendo uma dos, até então, maiores comunicadores que este Brasil já teve. Não é de hoje que o senhor Sílvio Santos tem perdido a mão nos seus comentários relacionados às mulheres. Desrespeitoso é o mínimo que pode se dizer. E quando se tem crianças envolvidas? Como proceder?

No final de setembro, aconteceu a segunda edição de um concurso de miss infantil no programa dele. Lá por julho, um quadro na mesma linha já tinha recebido fortes críticas. Só que desta vez, o Ministério Público do Trabalho não deixou barato e abriu um inquérito para investigar o caso. A procuradora responsável disse que o concurso estimula a erotização e a sexualização precoce das crianças. "Vocês do auditório vão ver quem tem as pernas mais bonitas, o colo mais bonito, o rosto mais bonito, e o conjunto mais bonito", declarou o apresentador à plateia enquanto abria a votação nas candidatas.

Depois desse episódio, voltou a circular pelas redes um vídeo no qual o apresentador perguntava para um menina, acompanhada da mãe: "Débora, o que você acha melhor, sexo, poder ou dinheiro?". Como sempre, as pessoas riram, como se fosse apenas uma piada de mau gosto. Alguns podem dizer que é a velhice batendo na porta, que Sílvio Santos já passou da idade de se aposentar ou que deveria ser interditado. Mas se a gente for ver a postura das filhas dele a frente dos programas, digamos que não é muito diferente, né?

"Ah, Cris, mas agora nem dá mais para brincar, as pessoas vêem maldade em tudo, claro que ele não disse por mal." Olha, não consigo mais enxergar desse jeito. E pelo que ando observando, nem eu, nem mais um monte de gente. E olha que fui uma criança criada nos anos 1980 e que quando adolescente ensinava os primos a dançar as músicas do Bonde do Tigrão. A gente sabe muito bem que a maldade está na cabeça e no olhar do adulto, não na criança. Se fosse o contrário, seria inclusive mais fácil de protegê-las.

A gente cansa de bater na tecla que é necessário um olhar mais atento para as crianças, sobre a importância de se ter educação sexual nas escolas para ensiná-las que ninguém pode encostar nelas, para que cresçam saudáveis física e mentalmente, para que possam crescer sabendo se proteger e, principalmente, tendo consciência que nada, nem ninguém, é dono do corpo e da vida delas. E isso vale para qualquer gênero.

Nós estaremos de olho para que atitudes como essa de seu Sílvio não continuem sendo replicadas por aí. "É preciso estar atento e forte", já dizia Caetano. Seguimos.

Autor
Jornalista, formada pela Universidade Federal de Santa Catarina, especialista em Marketing e mestre em Comunicação - e futura relações-públicas. Possui experiência em assessoria de imprensa, comunicação corporativa, produção de conteúdo e relacionamento. Apaixonada por Marketing de Influência, também integra a diretoria da ABRP RS/SC e é professora visitante na Unisinos e no Senac RS.

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