Manias & Pesadelos

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Criar emoções é o modo que 

tenho de esconder o passado."

Georges Simenon.

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Não se sabe se por simples admiração ou por mal-disfarçada inveja, historiadores e críticos literários tiveram disposição e usaram seu tempo para semear dúvidas e levantar polêmicas sobre alguns dos grandes nomes da literatura mundial. Depois dos gênios William Shakespeare e Miguel de Cervantes, autores modernos também foram objeto da lente dos especialistas em literatura: James Joyce, Francis Scott Fitzgerald, Georges Simenon e outros tantos.

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O belga Georges Joseph Christian Simenon é reconhecido como criador de um dos ícones da literatura policial, o comissário Jules Maigret. Graças à sua incrível fecundidade, era capaz de produzir quatro ou cinco romances por ano. Escreveu 200 livros em seu próprio nome, mais outros tantos sob vários nomes de plume,  sem mencionar 1.000 contos e crônicas publicados em jornais e revistas de vários países e idiomas. 

Sua fertilidade é frequentemente citada como um defeito e não como virtude desejável em um escritor por profissão. Ele também é lembrado por declarar que conhecera intimamente centenas de mulheres. Mas em seu dia-a-dia seguia uma rotina espartana de trabalho: escrevia um capítulo por dia, de segunda a sexta-feira, e os revisava no sábado e domingo. Ao terminar um romance, enviava cópias xerox dos originais para as editoras em Londres, New York e Paris. Em entrevista, confessou que antes de escrever a primeira linha, se sentia tenso e precisava de tranquilizantes para poder trabalhar. Mas, exurido depois de horas escrevendo, precisava de três ou quatro copos de cerveja alsaciana. E reclamava:

"Escrever é mais do que um 

trabalho duro, é um pesadelo."

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Um crítico escreveu que Simenon pode ser considerado como um Honoré de Balzac deslocado para o crime. Mas enquanto o autor de "Eugenia Grandet" tem o dinheiro como personagem central, Simenon usa a condição humana. Ele não procura o inusitado ou o extravagante, como é comum nos romances policiais, mas o comum, o ordinário: 

"Qualquer homem que anda pela rua é

personagem para uma história."

Em 1989, pouco antes de morrer, Georges Simenon recebe um grupo de cinco médicos em sua mansão nas colinas acima de Lausanne. Os clínicos pretendem estudar como funciona o seu intenso processo criativo. Ele é interrogado por sete horas, sem se incomodar, pois era interessado em medicina e psicologia. Finalmente, quando os médicos tentam apresentar o diagnóstico de sua fecundidade, o normalmente suave Simenon encerra a sessão, protestando:

"- Não quero saber. Se souber como faço isso,

 nunca mais serei capaz de escrever."

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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