Memórias da primeira turma da Fabico
Por Flávio Dutra
Costumo me exibir que sou da primeira turma da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da Ufrgs, a Fabico. Ainda tivemos um semestre na então Escola de Jornalismo, vinculada à Faculdade de Filosofia, com currículo de três anos, antes da transferência, em 1970, para o prédio da gráfica da universidade na Ramiro Barcelos, quando ocorreu a fusão da Comunicação com a Biblioteconomia. Nossa turma era da pesada, criativa, festeira e empreendedora.
Lembro, por exemplo, do esforço que fizemos para promover o Salão de Arte e Comunicação, o Saco. Foram duas edições, a primeira dentro do prédio e a outra no canteiro, hoje urbanizado e na época uma espécie de território livre, na frente da faculdade. Isso porque a direção proibiu as manifestações, alegando que o pessoal estava fumando maconha (sim, já se fumava maconha naquele tempo; eu fora) e bebendo muito durante o evento (eu dentro). Consta que durante uma das apresentações alguém correu pelado entre espectadores, mas acho que é lenda acadêmica.
Lembro também das viagens que a turma fazia sob qualquer pretexto. Participei de uma para Brasília (um evento de comunicação) e outra para a Bahia (um congresso de jornalistas), ambas de ônibus, dos antigos. E teve gente que se perdeu pelos confins da América Latina. Ah, e as festas, as festas...!
E tem ainda a história do primeiro jornal que fizemos, denominado Ernestão, homenagem-sacanagem ao professor Ernesto Correa e que constava de uma folha, tipo mural. Até hoje busco quem tenha um exemplar. O Ernestão ficou faceiríssimo. O mesmo Ernestão, diretor à época e muito gozador, pregou uma peça no professor Abrelino Rosa, que lecionava literatura brasileira e era um profundo conhecedor de Fernando Pessoa. Pois bem, na falta de professor para a cadeira de Redação Jornalística, convencido pelo Ernesto, o professor Rosa topou assumir a cadeira e começou a dar aula com um livro texto tipo "Jornalismo sem mestre". Foi um gritedo do pessoal, até ele se dar conta do ridículo da situação, excomungando o Ernestão.
Teria muito mais para contar, como a caótica formatura, depois de sete anos de ingresso, e a formatura que não houve de minha filha Mariana em RP, mas já extrapolei o espaço. Mesmo assim, ficam na memória as melhores lembranças da Fabico, especialmente daquela primeira turma, muito integrada, muito festeira e pouco politizada, o que era uma incoerência para a época, em plena a ditadura.
* Editado de texto produzido a pedido da comissão dos 50 anos da Fabico.