Menos corrupção, menos intolerância!

Por Elis Radmann

21/05/2019 14:20

Há tempos, estamos sofrendo com a corrupção e é um sofrimento que parece não ter fim. É um desalento que vai abrindo feridas profundas em todos e está nos levando ao pior de todos os males: a intolerância.

Durante o processo eleitoral de 2018, a população tinha como consenso a necessidade de um presidente que tivesse como princípio o combate à corrupção. Deveria ser uma pessoa com pulso firme, com capacidade de romper com a velha política do toma lá, dá cá. Desejavam um político que administrasse o Brasil como se administra uma empresa, fazendo com que os serviços públicos e obras andassem e os funcionários públicos trabalhassem em prol das pessoas.

Era um desejo simples, justo e necessário! O problema é que os agentes que operam o sistema político brasileiro ?não se dão conta? dos malefícios causados pela corrupção. Mas a sociedade sabe pontuar os diferentes males que a corrupção traz.

Há aqueles que dizem que a corrupção leva o dinheiro de serviços como a saúde e tira a chance de muitas pessoas viverem.

Tem aqueles que percebem a corrupção como uma doença contagiosa, que contamina as pessoas honestas. Acreditam que, quando se ?chega lá? e vê os colegas desonestos se dando bem, é fácil entrar na mesma lógica.

As pessoas com mais experiência contam que a corrupção mantém a ineficiência do serviço público e potencializa a burocracia. Cria a figura do intermediário, daquele que é o ?despachante?, que faz a indústria do suborno começar a funcionar para que o cidadão tenha acesso àquilo que é seu de direito.

E uma parcela fala da corrupção com profundo desprezo, lembrando a impunidade. Das práticas corruptas que acabam fazendo parte do nosso dia a dia, nos entristecendo, nos obrigando a dizer para os nossos filhos: ?infelizmente, é assim que funciona?.

Diante dessas lógicas perversas, os efeitos da corrupção ampliam cotidianamente a decepção que é potencializada e externada pelas redes sociais. A impaciência da população é um sintoma, que mostra que não se aguenta mais ver as mesmas práticas, os mesmos conchavos e as negociatas de sempre.

E essa intolerância que nasce das sucessivas frustrações da população, alimenta a descrença com os partidos, com os políticos e com as instituições. E a desmoralização das instituições afeta a crença na democracia.

E aí está o pano de fundo para os debates que estão sendo visto nas redes sociais. A maioria tem um desejo comum: quer um país melhor, sem corrupção e não acredita que o país esteja caminhando para esse propósito.

Além disso, a forma como as soluções são apresentadas geram muitos temores: como se abrir mão da aposentadoria fosse um caminho bom para o país não quebrar, e investir em educação fosse um caminho ruim, pois há necessidade de contingenciamento.

Temos a tempestade perfeita para o bate-boca, para a desqualificação do outro, para que a intolerância se mostre na sua forma mais plena.

Montesquieu diz que dois seres uma lei, dois seres um diálogo. E a intolerância se torna a rainha quando dois seres não dialogam, se atacam. Quando dois seres não trocam ideias, se desqualificam. A intolerância procura um culpado, ataca o mensageiro e não permite que se chegue a uma leitura e muito menos aos pontos fortes e fracos da mensagem.

Temos que resgatar a tolerância. É salutar concordar, discordar ou mostrar pontos frágeis da mensagem, mas sempre com respeito ao mensageiro.