Mulheres enfrentam dificuldades para registrar violências

Por Márcia Martins

04/04/2024 15:48 / Atualizado em 04/04/2024 15:47
Mulheres enfrentam dificuldades para registrar violências

Uma excelente reportagem da competente repórter Adriana Irion, publicada em GZH, na edição de 3 deste mês, confirma um dos principais problemas que as mulheres vítimas de violência enfrentam em Porto Alegre: a precária estrutura física e de recursos humanos da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). A manchete diz: "mulheres vítimas voltam para casa sem ser atendidas em delegacia especializada". E o resultado é o pior imaginado para essas mulheres. O aumento progressivo dos casos de violência doméstica, de agressões físicas e verbais e de feminicídios.

Sem ter onde denunciar, sem ter como buscar auxílio, sem ter como se proteger, elas muitas vezes retornam ao lar (onde se encontra, na maioria dos casos, o agressor). O péssimo cenário da Deam de falta de efetivo, ausência de salas para acolhimento às mulheres, enquanto aguardam o atendimento, e local seguro para um depoimento confidencial, com funcionárias preparadas, é o reflexo direto da pouca importância dada ao tema políticas públicas para as mulheres, nos últimos anos, nas esferas municipal, estadual e federal.

Os orçamentos foram sendo gradativamente reduzidos, os Centros de Referência não recebem a atenção necessária dos governos, não existem vagas suficientes para abrigamento das mulheres vítimas de violência e assim o ciclo vai favorecendo o receio que as mulheres têm de denunciar.

É muito constrangedor para uma mulher ter que efetuar a denúncia de agressão, mas quando ela adquire a coragem necessária para fazê-lo, é preciso ter um local adequado para que ela se sinta acolhida e com a certeza de que será ali bem tratada. Não é o que vem ocorrendo na Deam, conforme relata a matéria citada. Aliás, toda a rede de enfrentamento e proteção às mulheres vítimas de violência, tanto em Porto Alegre, como em todo o território gaúcho, sofreu um desmantelamento preocupante. E assim, as mulheres seguem sendo agredidas e violentadas sem ter a quem recorrer.