Nada de assédio na folia do carnaval

Por Márcia Martins

Não é porque são quatro dias de bebida, de folia, de festas em clubes ou bares e desfiles na avenida que está tudo liberado. O carnaval admite muitos excessos. Mas só os permitidos e consentidos. O assédio não deve entrar na passarela, sambar nos bailes e nem ser incorporado ao plano de nenhum folião, porque é crime. Muita gente confunde a alegria contida nas festas de Momo para passar a mão em partes do corpo da mulher, forçar carinhos e beijos, enlaçar a cintura da moça fantasiada de havaiana e partir para o assédio sexual.

Carnaval, apesar de servir de cenário para corpos quase desnudos de mulheres, de glitter e brilho disfarçando trejeitos da face, de rostos escondidos debaixo de máscaras, de homens que se fantasiam de todos poderosos, não é diferente de nenhuma outra data festiva, comemorativa ou de um dia comum como outro qualquer. Logo, não é para ultrapassar nenhum sinal.

Solte a alegria adiada e abafada durante mais de um ano, grite na arquibancada para a escola campeã, cante em alto som as marchinhas de antigamente e o samba enredo da sua escola preferida ou de carnavais passados. Vista a fantasia da moda ou improvise algo muito alegre, brilhante, com lantejoulas e purpurinas. Só não desrespeite jamais a vontade de uma mulher. Se ela falar que não deseja mais nada além de pular o carnaval, é isso mesmo que ela está querendo. Não há nada subentendido nesta intenção.

Tenha em mente que, se no carnaval que passou, um Pierrot abraçou e beijou uma colombina, tal gesto só irá se repetir se a mulher fantasiada consentir. E assim como cachaça não é água, vem do alambique, ela não pode faltar na festa de carnaval, o respeito com a vontade da mulher também é item obrigatório. Nas noites de carnaval, bandeira branca para o respeito ao corpo da mulher, para o direito feminino de ter as suas vontades, de se relacionar com quem ele quiser e se ela quiser.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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