Não se brinca com o futuro
Por José Antônio Moraes de Oliveira


Não por acaso, eu desconfiava das ciganas do Campo do Polo, que batiam palmas no portão de casa oferecendo para ler nossa Buena Dicha. O pai costumava dizer que eram umas fingideiras, pois nunca se deve brincar com o futuro. Mas, um certo dia, algo aconteceu que me deixou cheio de dúvidas.
Seu nome era Anna dos Gatos, não usava bola de cristal, mas todos falavam que ela sabia prever o futuro. Morava em um pequeno apartamento de fundos e fazia justiça ao nome: havia gatos por toda parte, nas cadeiras, em cima do sofá e se espreguiçando em cima do fogão.
Vestida de branco, toma de minha mão, passa o dedo na linha da vida, fecha os olhos por um bom tempo e sussurra alguma coisa no ouvido da mãe que a faz empalidecer. Na saída, pergunto o que dissera a vidente, mas a mãe hesita e cala. Depois me toma pelo braço e contar que a tal mulher dos gatos sabia de coisas antigas, que aconteceram quando eu tinha sete ou oito anos.
Naquela noite, perco o sono, me reviro na cama me perguntando:
"Como ela podia advinhar que quebrei
o espelho do banheiro?".
"E como sabia que uma vez cortei
fundo a mão com a faca da cozinha?
Sem respostas, levanto ainda assombrado e no café-da-manhã com a família, disfarço minhas inquietudes, mas fico pensando - se a mulher dos gatos sabe o que aconteceu comigo no passado, com certeza sabe o que vai acontecer comigo no futuro?
***