Noites frias e fatídicas
Por Renato Dornelles

No início dos meus muitos anos de reportagem na área da segurança pública (prefiro assim chamar por entender que "reportagem policial" limita demais o tema, que vai muito além da atuação das polícias), lá pelos anos 80 e 90, eu tinha literalmente um termômetro para prever como seriam meus plantões.
Dias quentes significavam muito trabalho. Com muita gente na rua e muitos carros rodando até altas madrugadas, os riscos de desentendimentos, assaltos e acidentes de trânsito se multiplicavam. Importante lembrar que muita gente andava armada pelas ruas e não existia ainda a chamada "Lei Seca".
Em meus plantões, principalmente nas noites, eu já saía de casa pronto para maratonas e peregrinações por delegacias, locais de crime e de acidentes. Costumavam ser tantos os casos que eu praticamente nem percebia o tempo passar. Por outro lado, em dias e noites frias, o relógio (felizmente, por um ponto de vista humano), parecia andar em câmera lenta, tamanha a monotonia.
Mas, como exceções sempre são possíveis, pelo menos duas noites extremamente frias foram marcantes. Uma delas, de 4 para 5 de junho de 1988, quando foi assassinado o deputado estadual e radialista José Antônio Daudt, naquele que, seguramente, foi o caso policial mais rumoroso no Estado, no século passado.
A outra foi de 8 para 9 de julho de 1994, quando, na sequência de um motim iniciado no Presídio Central, ocorreram perseguições, tiroteios, mortes e a invasão de um hotel. Participei de ambas as coberturas (na segunda, eu próprio me escalei) e os termômetros oscilavam entre 0ºC e 4ºC. A cada vez que faz frio como este que estamos enfrentando agora, eu fatalmente lembro daquelas noites fatídicas.