"A história é um profeta com o olhar voltado para trás:
pelo que foi, e contra o que foi, anuncia o que será."
Eduardo Galeano, As Veias Abertas da América Latina.
O que está acontecendo, hoje, no Brasil é histórico. A eminente prisão de Jair Bolsonaro e de seus cúmplices, por tramarem um golpe de Estado contra a vontade soberana do povo, expressa de forma inequívoca nas urnas, não é apenas um ato jurídico: é um gesto civilizatório. É o Brasil dizendo, sem hesitação, que não há espaço para tirania, que não há mais lugar para as ?viúvas do AI-5 de farda?, sonhando com tanques nas ruas, e muito menos para políticos covardes flertando com o autoritarismo.
Eu nasci no início dos anos 70, em pleno regime militar. Em 1983, com apenas 10 anos, eu e uma colega de escola (lembra Gabriela?) escrevemos uma redação contra a ditadura. Não estávamos sozinhos - o País fervia com desejos de liberdade -, mas o sistema ainda era implacável. As professoras chamaram nossas mães para o colégio. Não foi para nos parabenizar, mas para adverti-las. Disseram que aquilo era ?muito perigoso?. Aos 10 anos, eu aprendi que pensar livremente no Brasil podia ser motivo de punição.
Cresci num País sufocado pela repressão, onde o medo era parte do cotidiano e o silêncio era imposto à força. Vi amigos, vizinhos e familiares engolirem sua voz para sobreviver. Vejo, com tristeza, os filhos de alguns deles empunharem a bandeira da extrema direita ou flertarem com ela hoje em dia. Vi a esperança nascer nas Diretas Já, vi o povo tomar as ruas exigindo o direito básico de escolher seus governantes. E vi também o quanto custou conquistar essa liberdade.
Por isso, hoje, não há como aceitar passivamente os apelos por "anistia" vindos da extrema direita. Não há como normalizar o absurdo de um vice-líder da oposição, o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO), pedindo intervenção militar, como se nossa democracia fosse descartável. Eles ainda acreditam que podem manipular, distorcer, ameaçar e voltar ao poder por meio do caos. Mas o Brasil mudou. E não vai voltar atrás.
O que o ministro Alexandre de Moraes está fazendo não é apenas cumprir seu papel institucional: é colocar um ponto final em décadas de ameaças mal resolvidas. É mostrar que liberdade não é concessão, é conquista. E quem tenta destruí-la precisa responder por isso.
Liberdade se defende. Democracia se protege. E justiça se cumpre. O Brasil está, enfim, dizendo em alto e bom som: nunca mais à ditadura. Nunca mais ao golpe. Nunca mais ao medo.