O combate ao crime como bandeira eleitoral

Por Renato Dornelles

As facções criminosas no Brasil com o tempo atingiram um elevado nível de organização, todos sabemos disso. O que as impede de um chegar a um patamar mais alto é a divisão. Explicando: diferentemente das máfias italianas, ou dos antigos cartéis de drogas da Colômbia, por exemplo, que lotearam territórios em comum acordo, por aqui há disputas estaduais, regionais e nacionais.

Esse fator, em condições normais, seria um forte aliado do Estado no combate ao crime. No entanto, autoridades e instituições no país também agem divididas, o que dificulta bastante a reação estatal. E essa divisão tem uma razão principal: a disputa pelo poder.

A mais letal operação policial, realizada na semana passada no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, mexeu profundamente no cenário político. De uma hora para outra, governadores começaram a determinar operações em seus Estados e a oferecer ajuda a outros, desde que governados por aliados.

No Congresso, ganhou força a Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado, instalada no Senado, opondo governistas e oposicionistas, que disputaram, em equilíbrio de forças, o comando da CPI.

Não há dúvidas de que o país como um todo precisa combater as facções e as milícias. Mas segurança pública não pode ser bandeira eleitoral. É preciso união entre o ente federal e os Estados membros da Federação.

As políticas neste campo precisam ser de Estado e não de governos. São necessárias ações pensadas, planejadas, articuladas para serem executadas em conjunto em curto, médio e longo prazos. Só assim o Estado brasileiro terá chances de superar o crime.

Autor
Jornalista, escritor, roteirista, produtor, sócio-diretor da editora/produtora Falange Produções, é formado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) (1986), com especialização em Cinema e Linguagem Audiovisual pela Universidade Estácio de Sá (2021). No Jornalismo, durante 33 anos atuou como repórter, editor e colunista, tendo recebido cerca de 40 prêmios. No Audiovisual, nos últimos 10 anos atuou em funções de codireção, roteiro e produção. Codirigiu e roteirizou os premiados documentários em longa-metragem 'Central - O Poder das Facções no Maior Presídio do Brasil' e 'Olha Pra Elas', e as séries de TV documentais 'Retratos do Cárcere' e 'Violadas e Segregadas'. Na Literatura, é autor dos livros 'Falange Gaúcha', 'A Cor da Esperança' e, em parceria com Tatiana Sager, 'Paz nas Prisões, Guerra nas Ruas'. E-mail para contato: [email protected]

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