As facções criminosas no Brasil com o tempo atingiram um elevado nível de organização, todos sabemos disso. O que as impede de um chegar a um patamar mais alto é a divisão. Explicando: diferentemente das máfias italianas, ou dos antigos cartéis de drogas da Colômbia, por exemplo, que lotearam territórios em comum acordo, por aqui há disputas estaduais, regionais e nacionais.
Esse fator, em condições normais, seria um forte aliado do Estado no combate ao crime. No entanto, autoridades e instituições no país também agem divididas, o que dificulta bastante a reação estatal. E essa divisão tem uma razão principal: a disputa pelo poder.
A mais letal operação policial, realizada na semana passada no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, mexeu profundamente no cenário político. De uma hora para outra, governadores começaram a determinar operações em seus Estados e a oferecer ajuda a outros, desde que governados por aliados.
No Congresso, ganhou força a Comissão Parlamentar de Inquérito do Crime Organizado, instalada no Senado, opondo governistas e oposicionistas, que disputaram, em equilíbrio de forças, o comando da CPI.
Não há dúvidas de que o país como um todo precisa combater as facções e as milícias. Mas segurança pública não pode ser bandeira eleitoral. É preciso união entre o ente federal e os Estados membros da Federação.
As políticas neste campo precisam ser de Estado e não de governos. São necessárias ações pensadas, planejadas, articuladas para serem executadas em conjunto em curto, médio e longo prazos. Só assim o Estado brasileiro terá chances de superar o crime.