O Efeito Bolsoleta

Por Fraga

Em 1969, Edward Lorenz, um professor do MIT, assustou o mundo ao enunciar o Efeito Borboleta, hoje uma conhecida metáfora sobre causas e consequências. Ele disse, numa conferência científica, que o bater de asas de uma borboleta num lugar qualquer poderia causar um furacão em algum outro ponto do planeta. Bem, naquele auditório certamente não havia nenhuma borboleta pra contestar. 

Essa metáfora, exagerada como tantas outras, superdimensiona a potência dos movimentos dos delicados insetos. Porém simboliza bem o impacto que pequeninas coisas podem ter em seu redor. Depende apenas da proporção desse sensacional fenômeno: se um elefante sacudir suas orelhas na savana, coitadas das borboletas nas proximidades. Para elas, seria o caos. E Dumbo, um filme-catástrofe. 

No clima, inocentes nuvenzinhas, ao se juntarem, dali a poucas horas podem inundar o noticiário com mau tempo. Já o bater das asas de um boeing, derrubaria por terra vários conceitos da avançada engenharia aeronáutica. Sem falar nos prédios do aeroporto e na náusea dos passageiros a bordo em meio à turbulência causada pelo pássaro de metal. Quer dizer, ao se extrapolar uma metáfora, convém manter o foco dessa teoria ou o caos, além de caótico, chega ao absurdo.

Mas teorizar sobre o caos nacional dispensa rédeas à imaginação. Afinal, há mais de dois anos temos um deprimente da república borboleteando em Brasília e causando estragos pelo país afora com atos e desatinos: vendavais de burrice, temporais de obscurantismo, tempestades criminosas, tufões de truculências. É o Efeito Bolsoleta. Tudo que o nosso deplorável mandachuva diz ou faz, mesmo em menor escala, retumba e acaba em mais tumbas.

Ao vibrar em xingamentos ou ofensas, a língua ferina e grosseira de Bozonaro desloca o ar em torno da sua boca e imediatamente altera o clima do ambiente. Essa minúscula mas explosiva aragem do bater dos seus lábios se amplia em vociferação bozonazista. A partir daí, causa ondas progressivas de estupefação no país inteiro. A cada pronunciamento do incapaz-mor, a instabilidade aumenta e faz estremecer o Brasil com pancadas esparsas e tragédias sociais torrenciais. 

Com tantos choques climáticos, o Efeito Bolsoleta impacta o bom senso e provoca inundações de tristeza e desânimo em quem não votou nele, embora pros seus fanáticos seguidores tudo pareça céu de brigadeiro. Atingidas por ventanias e rajadas de ultradireita, nossas instituições tremem nos alicerces e ameaçam ruir. E nesse horizonte sombrio, nenhum clarão de impiti relampeia.

No ar, em vez de mais vacinas, cumulus de cpfs cancelados, nimbostratus de milícias encorajadas, cumulonimbos de salles sobre a Amazônia. As borboletas querem bater em retirada mas os milicos exigem que batam continência. 

Autor
Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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