O impresso ainda tem valor, sim!

Por Anelise Zanoni

31/01/2020 14:10 / Atualizado em 31/01/2020 14:07

O mundo é digital, mas o impresso ainda tem seu valor.

Vocês devem estar pensando que estou louca ou que tive um ataque de saudosismo. Na verdade, tenho saudades de trabalhar em redação de jornal, da correria da noite e da tensão em escrever um texto sem a possibilidade de corrigi-lo instantes depois de ele estar impresso.

Mas o que quero dizer tem a ver com algo que observo nos últimos tempos, desde que tenho atuado mais do outro lado da produção jornalística. 

É fato e não é novo que os jornais e revistas físicos perdem leitores todos os anos. Os veículos espremeram editorias e não deixaram mais espaço para áreas importantes como cultura e educação. Há pouco, vimos títulos importantes de revista encerrarem atividades e jornais se transformarem em empresas 100% online ou que integraram diferentes áreas por questões de saúde financeira.

A informação é cada vez mais líquida, como dizia o sociólogo Zygmunt Bauman. E é justamente por isso que o trabalho jornalístico analógico ainda tem muito valor, principalmente por estar em extinção!

No Interior, os jornais locais ainda são fonte importante de informação. As pessoas querem saber o que se passa em seus bairros, quem são as personalidades importantes que estão na coluna social e prezam muito pelo relacionamento com a imprensa local.

Em muitos municípios, os jornais têm parceiros comerciais fortes, que seguem investindo porque acreditam na força dos jornais ou simplesmente por amizade com o dono do jornal (a qualidade da informação, eu sei, é um outro assunto a ser discutido!). No Interior ainda se paga para aparecer num jornal, porque as pessoas acreditam que é importante estar lá.

Nesta semana fiquei surpresa quando vi que a revista Gula, especializada em gastronomia e vinhos, segue firme no mercado editorial e está comemorando 30 anos de existência, mesmo com altos e baixos do mercado jornalístico! É o impresso mostrando que ainda tem força.

Também conheci mais a fundo um projeto que une histórias e a beleza da editoração. A empresa Palavra Bordada é especializada em fazer livros personalizados para empresas (muitas de renome!) ou para pessoas que acreditam que sua trajetória de vida é importante. Em plena época em que grandes livrarias fecham as portas e que os jornais minguam, as empresárias donas da marca decidiram apostar neste segmento.

Elas passam dias e dias ouvindo pessoas, fazem entrevistas, pensam no projeto gráfico e, sim, transformam histórias em lindos livros. E aí você acha que isso não tem futuro porque o mundo é digital? Negativo!

A empresa dessas três mulheres cresceu 57% no último ano e tem perspectivas de aumentar mais, porque muitos empresários compreendem que um livro pode ser um belo registro histórico, um produto para se ter nas prateleiras e até mesmo um presente para os clientes! E isso reforça o poder dos livros.

Mas posso dizer que em meio às grandes ideias, o que acontece no mercado dos impressos ainda é paradoxal. Várias empresas querem ver seus nomes estampados em jornais e revistas e ainda valorizam o conteúdo de veículos tradicionais impressos como Zero Hora, Correio do Povo e revistas como Veja, Forbes e Istoé. O que mudou é onde estas empresas estão investindo dinheiro. Não querem mais gastar com anúncios (afinal, quem vai converter em vendas?), mas querem ver seus nomes nos textos do impresso (olha aí, assessores de imprensa!).

Tenho pensado muito nisso nos últimos tempos e vejo como é constante ver que quem valoriza o impresso ao mesmo tempo dá as costas para ele. Talvez o encanto pelo jornalismo tradicional esteja no trabalho do jornalista que, embora desvalorizado financeiramente, ainda é de extrema importância para um trabalho de qualidade dentro das redações ou das agências produtoras de conteúdo, o que faz toda diferença na hora de produzir um texto. 

Sem dúvida, embora fora de moda, o papel ainda oferece credibilidade, é um documento, um presente porque teve muito trabalho envolvido. Já é um verdadeiro luxo.