O Natal existe e ninguém é triste e no mundo há sempre amor

Por Márcia Martins

De repente, não mais que de repente, quando me preparava para escrever a coluna da semana, olhei para o calendário fixado no canto inferior direito do notebook e a data desta quarta-feira indicava que já estamos no dia 27 de novembro. E percebi que falta menos de um mês para o Natal. Menos de 30 dias para fazer a minha lista de presentes e entregar para a família (como se adiantasse - família pequena e os poucos parentes do clã em contenção de gastos). Menos de um mês para escrever um email para o Papai Noel (hoje até ele é adepto das redes sociais) e lhe assegurar que foi uma boa menina, militei pelas causas certas, não desejei a casa da vizinha e nem mesmo o seu companheiro (será?) e que tive sempre um bom comportamento.

E, ao ter meu primeiro pensamento com o Natal de 2019, fiquei a me questionar sobre as propagandas para a data, seus jingles emocionantes e aquelas cenas lindas de família de comercial de margarina que sempre me fazem chorar prantos e prantos de lágrimas (o que não é nada difícil). Será que ando assim tão distraída e fugindo o máximo que posso da televisão aberta que não vi aquela publicidade do famoso supermercado? Ou está toda economia em processo de rever seus hábitos e a iniciativa privada cortou definitivamente os investimentos em propaganda? Ah, lembrei. Aquela conhecida loja de origem gaúcha de moda feminina, masculina, infantil e perfumaria já anunciou que o consumidor tem "um tempo bom de 60 dias para pagar".

Na realidade, puxando um pouco da memória, confesso que alguns sinais luminosos natalinos haviam se intrometido no meu cotidiano. No meio de outubro, por exemplo, a creche que o neto canino Quincas Fernando Martins frequentava quando o meu endereço ainda era no bairro Bom Fim mandou aviso pelo whats da promoção de hotel para o período das festas de final de ano. Na semana passada, recebi, por email, um convite para um café da manhã/encontro de confraternização de final de ano de um site para o qual escrevo. E na terça-feira, ao almoçar com a minha filha Gabriela, ela deu um jeito de dizer que já providenciou a compra de um livro que eu mencionei que gostaria de ganhar (é uma rica filha, desempregada e gastando com a mãe).

Então, tudo leva a crer que estou, mesmo que de forma inconsciente, negando a chegada do Natal. Porque é impossível que nas minhas andanças semanais pelo supermercado (aquele da propaganda citada mais acima) eu não tenha visto a invasão desenfreada de panetones de todos os tamanhos, variações e recheios nas prateleiras. Não é um absurdo fabricarem tanto panetone assim? Ok, admito não gostar de panetone. E, nas minhas caminhadas pela Rua dos Andradas, ao retornar das reuniões do Sindicato dos Jornalistas, eu nem tenha estranhado as vitrines daqueles comércios de R$ 1,99 e suas variações com enfeites natalinos em cada canto.

Sei lá. Acho que o Natal perdeu um jeito de me envolver desde julho de 2011, quando a minha mãe Mirthô faleceu. Mamis vivia as festas de final de ano de uma forma que contagiava todos à sua volta. Ela se emocionava. Ela se programava. Ela inventava mil enfeites novos para adornar o seu apartamento. Ela inovava sempre na preparação da ceia e abusava na criação de pratos diferenciados e compotas e frutas ao redor da proteína principal da noite. Mirthô, uns dois meses antes do Natal, já havia ligado para os quatro filhos (Sílvia, eu, Nando e Dedé) para saber o que eles queriam de presente. E, com toda esta antecedência, dava um jeito de convocar todos para chegarem mais cedo no dia 24 e 31 para a folia começar antes da hora.

Mas vou me esforçar e mergulhar, dentro dos meus limites, no tal espírito natalino. Como já dizia aquele jingle famoso, lançado na metade dos anos 70 (creio) para a propaganda de Natal de um banco que não recordo o nome: "Se você pode ser assim, tão enorme assim, eu vou crer que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo é sempre amor".

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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