O outro caminho

Por José Antônio Moraes de Oliveira

"Foi em um crepúsculo de vago outono

que parti para uma viagem que nunca fiz."

Bernardo Soares.

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Quem, entre nós, já não lamentou (ou se arrependeu) de ter escolhido um determinado caminho em lugar de outro? E depois, ainda ficou imaginando como teria sido sua vida, se? Existe um clássico na poesia norte-americana que nos fala de escolhas e arrependimentos. O poema 'The Road Not Taken' é uma pequena jóia - foi escrito por Robert Lee Frost em 1915. Nos adverte de como uma decisão aparentemente banal pode afetar nossas vidas. Assim falava o poeta:

"Dois caminhos divergiam na floresta de outono. 

Escolhi o menos percorrido e isto fez toda diferença!"

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O poema tem diversas versões e pode ser encontrado sob títulos como 'O Outro Caminho' ou ainda 'A Estrada Não-Percorrida'. De uma forma ou de outra, tem sido glosado por muitos antes e depois de 1915, como os celebrados John Donne e Nathaniel Hawthorne. E mais recentemente, por Fernando Pessoa, que em um de seus poemas mais citados assim lamenta: 

"Vou passar a noite em Sintra, por não poder passá-la em Lisboa. Mas quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa (...)."

E a dúvida do que teria sido...:

"(...) E se em certa altura, tivesse voltado para a esquerda, em vez de para a direita? ..."

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Em seus versos, 'The Road Not Taken' propõe olhar para as escolhas do passado e, ao mesmo tempo, refletir sobre as decisões que nos aguardam mais adiante. De alguma maneira, Robert Lee Frost deu vida a um paradoxo conhecido como Mito da Encruzilhada. Que sugere que onde os caminhos se cruzam é o lugar para tomar decisões - ou para estranhos encontros. Tal como uma crônica recorrente na história do jazz, que conta que um jovem músico, Robert Johnson, vendeu sua alma em uma encruzilhada no Mississipi. E depois se transformou no maior guitarrista de blues de todos os tempos.

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Em antigas culturas, cruzamentos eram considerados como locais místicos - onde os peregrinos ouviam os deuses antes de seguir adiante. O que talvez explique os obeliscos, menires, altares, pilhas de pedras e oferendas que encontramos nas encruzilhadas da vida.

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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