´Os animais são meus amigos...e eu não como meus amigos.´
George Bernard Shaw
Ousar falar publicamente sobre veganismo é quase um convite a guerra. Mal a palavra aparece e já se formam as filas: uns com pedras (feitas de preconceitos idiotas) na mão, outros com piadas (infantis e muitas vezes homofóbicas) prontas, todos dispostos a defender ?sua carne? como se defendessem a própria honra. O curioso é que praticamente ninguém se incomoda quando falamos de reciclagem, de economia de água ou de plantar árvores, pois isso os beneficia de forma direta. Mas basta mencionar que não é justo explorar animais que a raiva desperta.
Talvez porque, lá no fundo, todos saibam o quanto é absurda e covarde essa relação dos homens com os animais.
O humano não vegano olha para um porco, uma vaca, uma galinha ? e não enxerga um ser vivo. Enxerga carne. E o que é isso, senão sadismo travestido de costume? É escolher, quando o animal ainda respira, qual pedaço arrancar, qual corte será mais macio, qual parte ?nobre? se oferecerá ao fogo. Tudo para um instante de prazer. É transformar um ser em objeto, uma vida em mercadoria, um grito em silêncio.
E quando alguém ousa lembrar disso, as pessoas se ofendem. Se ofendem porque sabem que não há como justificar. Não há argumento cultural, religioso ou econômico que apague a brutalidade do gesto. Porque, se a vida fosse de fato sagrada (para eles), nenhuma porção dela seria retirada pelo simples prazer da gula.
Mas, quando nós, veganos, erguemos nossas bandeiras, não lutamos apenas contra a morte. Lutamos contra a exploração em todas as suas formas. A exploração que insemina à força uma vaca, arranca dela o leite que seria do bezerro e o separa mãe para vender como carne nobre, criando um dos mais perversos rituais de crueldade. A exploração que toma da galinha os ovos que nunca foram nossos, que tritura pintinhos vivos como se fossem descartáveis, que a esgota até o corpo não resistir mais. A exploração que mutila a abelha rainha para roubar da colmeia o mel que lhe pertence. Não se trata apenas de dor, nem apenas de matar: trata-se de reconhecer que cada vida tem um destino próprio ? e que nenhum ser nasceu para ser reduzido a máquina de fornecimento.
A verdade é que precisamos evoluir. Precisamos entender, de uma vez por todas, que não somos donos do planeta, nem senhores das criaturas que nele habitam. Compartilhamos a Terra com elas ? e isso deveria bastar para que as respeitássemos. Não temos o direito de enfiar agulhas em seus olhos em nome da ciência. De queimá-las com ácido para testarmos cosméticos. Não temos o direito de prender, engordar e matar em nome do paladar. Não temos o direito de chamar de churrasco aquilo que, antes, era ALGUÉM.
E talvez por isso a reação seja tão violenta: porque todo humano que mastiga carne carrega um silêncio que grita. O silêncio de saber que está errado. O silêncio de saber que a vida que virou alimento não lhe pertencia.
Falar sobre veganismo não é apontar o dedo. É segurar um espelho. E nem todo mundo suporta olhar para ele.