Começou nesta terça-feira (2) em Brasília um julgamento histórico para o Brasil. Pela primeira vez, um ex-presidente e oficiais do alto escalão militar, juntamente com civis, estão sendo julgados por tentativa de golpe de Estado.
Seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro negam que ele tenta tentado um golpe de Estado e dizem que ele está sendo vítima de perseguição por parte do Supremo Tribunal Federal. Consequentemente, que o julgamento é injustificado.
Sem entrar no mérito das investigações da Polícia Federal e da denúncia da Procuradoria Geral da República que geraram o processo, relembro aqui afirmações públicas de Jair Bolsonsaro, com expressivas contribuições de seu filho Eduardo (?03? para o pai; ?Bananinha? para o ex-vice-presidente Hamilton Mourão, e ?Babaca? para o pastor Silas Malafaia), que por si só o colocam como suspeito em um processo desta natureza, contra a ordem democrática.
Defensor assumido e fervoroso do golpe e do regime implantado no Brasil em 1964, por diversas vezes Jair Bolsonaro deu demonstrações claras de seu pensamento autoritário. Antes de eleito presidente, no dia 28 de setembro de 2018, em entrevista a José Luiz Datena, da Band, o então candidato do PSL declarou: ?Não aceito resultado das eleições diferente da minha eleição?.
Na mesma época pré-eleitoral, seu filho Eduardo, para uma plateia de estudantes, falou em fechamento do STF:
?Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Não manda nem um jipe. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo?, afirmou.
Já com o pai na presidência e ocupando uma cadeira na Câmara dos Deputados, no final de outubro de 2019, Eduardo afirmou em entrevista que repercutiu mundo afora: ? se a esquerda radicalizar, uma das respostas do governo poderá ser via um novo AI-5?. Nos dois casos, Eduardo recuou após as repercussões negativas de suas falas.
.Já o pai, durante o período presidencial, se apegou ao sistema eleitoral como justificativa para uma possível não reeleição. Sem apresentar qualquer indício ou prova, passou praticamente todo o mandato espalhando suspeitas sobre a segurança das urnas eletrônicas.
E a cada vez em que as pesquisas apontavam queda em sua popularidade, ele ameaçava a realização das eleições, como ocorreu em um vídeo em que defendia o voto impresso: ?Sem eleições limpas e democráticas, não haverá eleições?, disse.
Em janeiro de 2021, no dia seguinte à invasão do Congresso estadunidense por fanáticos apoiadores de Donald Trump, inconformados com derrota do republicano nas eleições presidenciais do país, Bolsonaro, referindo-se ao Brasil, disse: "se tivermos voto eletrônico em 2022, vai ser a mesma coisa ou vamos ter problema pior que nos Estados Unidos".
Durante a CEO Conference 2022, organizada pelo BTG Pactual, em 23 de fevereiro de 2022, falando a empresários sobre as eleições que ocorreriam naquele ano, Bolsonaro disse que a população não poderia aceitar o ?quem chegar, chegou?:
"É isso que nós queremos para o Brasil? Dá para deixar rolar numa boa? Quem chegar, chegou??
Essas duas falas em nada poderiam ter sugerido ou incentivado a ocupação da frente dos quarteis após o resultado da eleição presidencial de 2022 e os atos de 8 de janeiro de 2023? Foram meras coincidências?
No meu ponto de vista, as declarações são suficientes para, nas conversas e debates informais, derrubar as teses de que são improcedentes as suspeitas. Claro que não suficientes para a realização do julgamento. Provas e indícios neste sentido couberam à PF, à PGR e à instrução processual.