Pela volta obrigatória do uso de máscaras

Por Márcia Martins

Há menos de 15 dias, fui interpelada por uma moça desconhecida, não mais do que 30 anos, enquanto esperava, tranquilamente e sem incomodar ninguém, o transporte público numa parada de ônibus perto da minha casa. Ela já havia me encarado algumas vezes e eu fui me certificar se não tinha esquecido nenhum adesivo do Lula na vestimenta porque os tempos andam complicados, não é? Com uma expressão muito furiosa, a tal pessoa em um tom de voz mais elevado, perguntou se eu não sabia que o uso de máscaras não era obrigatório. Respondi educadamente que tinha conhecimento, mas seguiria utilizando tal acessório.

Em questão de minutos, o ônibus que me levaria ao meu destino chegou, o que me deixou feliz porque até passou pela minha cabeça abrir a bolsa e entregar alguns boletos para a cidadã preocupada com a minha vida pagar. Depois, fui na boa fé e acreditei que a moça poderia estar me dando um aviso de utilidade pública. E pensei em lançar a campanha "cada um que cuide do seu umbigo", mas julguei não ser apropriada uma vez que, em se tratando da Covid-19 não é uma preocupação individual e sim coletiva.

Após cumprir um confinamento total de quase dois anos e parcial, mas com todos os cuidados, desde que tomei a quarta dose da vacina contra o coronavírus, optei por seguir utilizando a máscara, não só em locais fechados, mas até em lugares com muita aglomeração. Foi a atitude que me permitiu, ainda que com receio, participar como militante e filiada a um partido político, de compromissos de campanha. Foi a atitude que me estimulou, a convidar amigos e amigas para encontros regados a café. Foi a atitude que me incentivou a levar o cusco Quincas Fernando aos passeios no cachorródromo. 

A decisão de prosseguir me cuidando e andando sempre de máscaras e untada de álcool em gel deve-se ao fato de eu ter uma comorbidade (doença autoimune) e mais de 60 anos. Então, a precaução é necessária. Mas, também pelo desconhecimento da extensão e as ramificações deste vírus que chegou no Brasil em fevereiro de 2020. Se o coronavírus é capaz de surpreender até mesmo os especialistas, quem garante que ele não está à espreita pronto para me assustar?

Mas agora, com as notícias da nova variante da Ômicron, chamada de BQ.1, com um poder de se espalhar rapidamente, são muitos os conselhos de médicos infectologistas para que se voltem a adotar os cuidados preventivos. O cientista e professor Miguel Nicolelis recentemente alertou que é "com a BQ.1 é quase certo que estamos entrando numa nova onda da pandemia de Covid-19". Segundo ele, a doença, ao contrário do que muitos acreditam, está longe de acabar. 

Nicolelis enfatizou: "apesar de saber que poucas pessoas querem ouvir este alerta, estou tentando disseminá-lo o mais amplamente possível, porque é urgente que o Brasil adquira a nova geração de vacinas, que protege melhor contra a Ômicron e suas variantes". 

Então, consciente do alerta dado pelo cientista Nicolelis, e no rumo que escolhi seguir desde o início da pandemia, defendo a volta imediata e obrigatória do uso de máscaras em locais fechados e, se a aglomeração não puder ser evitada, utilizá-la também nestes casos. É pela saúde da população. É um novo momento de exercer a empatia pelo coletivo.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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