Pequenas verdades necessárias sobre a maternidade

Por Márcia Martins

Texto originamelmente publicado em 04/05/2022 

Ser mãe é uma das experiências mais enriquecedoras e desafiadoras na vida. Não tenho a menor dúvida. A maternidade é, desde os primeiros meses de gestação, um capítulo que marca a história da mulher para sempre. A ansiedade de aguardar o resultado do exame de gravidez. A barriga quando mostra o sinal de crescimento. As ecografias. A montagem do quarto. A escolha do nome. A espera pelo nascimento. E depois, uma sucessão de momentos de felicidade com o crescimento, as travessuras, o desempenho da cria no colégio e a saída para as primeiras festas na adolescência.

A maternidade transforma a rotina da mulher. Porque o planejamento do futuro não pode mais ser individualista. Porque uma outra vida, que acalentamos no ventre durante nove meses, e depois afagamos durante todo a sua existência, nos lembra a todo momento que não podemos mais ser egoístas. Porque a nossa consciência emite sinais de que o ser gerado exige responsabilidade, compromisso e conta com a nossa parceria.

Escolhi ser mãe e engravidei aos 34 anos. Foi uma gravidez programada e que me tornou uma pessoa totalmente nova. Principalmente porque com a chegada da Gabriela, eu despertava a cada manhã com o propósito de tentar ser uma pessoa melhor, com a missão de procurar errar menos, com a vontade de olhar o mundo com mais resiliência e com a intenção de ser mais paciente.

Em momento algum, é muito necessário reforçar, tive qualquer tipo de arrependimento com a gravidez. Com essa declaração - para não criar nenhuma dúvida - entendo ser oportuno também falar verdades nem sempre ditas sobre a maternidade.

A primeira delas, e talvez a mais importante, é que nenhuma mulher precisa ser mãe para sentir-se completa e plena. A gravidez deve ser sempre uma escolha e jamais um passaporte para a felicidade. As mulheres que não são mães ouvem muitos comentários maldosos que devem deixar de ser feitos. Quem não é mãe não tem menos amor que uma mãe. Quem não é mãe não é egoísta porque não quis dividir seus dias com filhos e filhas. Quem não é mãe fez uma escolha e precisa ser respeitada. Sem nenhum julgamento. Sem nenhuma cobrança. Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é, já disse Caetano na música "Dom de Iludir".

Outra verdade que deve ser desmistificada sobre a maternidade é que as mães são heroínas e tal e tal. Com os meus 27 anos de mãe, posso dizer que, às vezes, eu fiz muito esforço para corresponder às situações que enquadram as figuras maternas no retrato da perfeição. E sempre que fiz tal esforço, sabendo que não era e não sou perfeita, fui dura excessivamente comigo mesmo ao forçar uma qualidade que não era minha. Às vezes, confesso, me odeio por isso. Os filhos e as filhas nem sempre sabem que as mães têm os seus defeitos.

Ainda sobre mentiras e verdades da maternidade, circula pela Internet um texto atribuído à blogueira americana Natasha Craig sobre algumas coisas que as mães nunca contaram. Como, por exemplo, ela queria aquele último pedaço de bolo, mas quando viu o olhar do filho, lambendo a boca, cedeu. Toda vez que o filho puxou o cabelo dela, mordeu o peito ao mamar e fez seu corpo se contrair na hora de parir, ela sentiu muita dor. Ela não te carregou só por nove meses. Porque sempre que um filho precisou - apesar dos braços cansados e das costas doídas - ela o segurava. E continuará segurando sempre que sentir que é necessário, mesmo já sem estrutura física para isso.

Finalmente, ser mãe é cansativo, testa todos os limites da mulher, é desgastante porque mãe sofre, arrisca, erra, aprende e tem medo. Ser mãe é recompensador ao ver o sorriso da cria, o desempenho escolar, o sucesso profissional. É um amor que ocupa todo o coração materno. E as mães, com todos esses desafios, fariam tudo de novo.

Autor
Márcia Fernanda Peçanha Martins é jornalista, formada pela Escola de Comunicação, Artes e Design (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), militante de movimentos sociais e feminista. Trabalhou no Jornal do Comércio, onde iniciou sua carreira profissional, e teve passagens por Zero Hora, Correio do Povo, na reportagem das editorias de Economia e Geral, e em assessorias de Comunicação Social empresariais e governamentais. Escritora, com poesias publicadas em diversas antologias, ex-diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (Sindjors) e presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Porto Alegre (COMDIM/POA) na gestão 2019/2021. E-mail para contato: [email protected]

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