Por Tabela

Por Fernando Puhlmann

"Machismo Mata!"

Autor desconhecido

Desde que nascemos, nós machos, somos programados pela sociedade para sermos os donos de tudo. Não podemos chorar, não podemos recuar, não podemos não suportar, não podemos desistir, não podemos sentir medo, não podemos desviar o soco, não podemos evitar o sexo fácil. Somos criados para proteger, prover, reproduzir, tutelar, guardar, lutar, vencer. Vencer sempre e a qualquer custo, mas a qualquer mesmo, nem que isso signifique colocar a nossa saúde física e mental em risco.

Numa sociedade onde o principal papel do homem é ser o provedor, não existe espaço para o cansaço, para a covardia e nem para a dúvida. Nosso lugar no mundo é o de sermos o super herói de nossas vidas. Pobres vidas, muitas vezes massacradas por expectativas não alcançadas, por lugares não atingidos, mas que perseguimos como robôs teleguiados.

O machismo construiu um lugar especial para o homem, um pedestal de sal que pode se desmanchar ao primeiro toque de uma simples lágrima, sendo assim, chorar é impossível, faria ruir anos e anos de construção frágil, porém imponente.

A responsabilidade depositada pelos pais, e aqui não falo apenas da figura paterna, mas das mães também, nas costas de um menino, é quase a sentença de um julgamento mitológico: "Tu, meu herdeiro, caminhará sobre a Terra sem descansar, levará sobre teu dorso tua família e nunca dividirá esse peso".

Lendo agora essas linhas, vocês devem pensar que eu condeno os pais, mas não, na verdade, eles são tão vítimas dessa construção quanto nós todos. Também lhes ensinaram que era proibido dividir obrigações, sonhos e anseios, impuseram-lhe a armadura dos homens muito antes deles terem noção crítica do que estavam fazendo e lhes largaram a própria sorte para reproduzir essa ideia tosca vida à fora.  O machismo, como conhecemos, é antes de tudo uma herança antropológica, construída por uma sociedade atrasada e infantil.

Nesta construção de meninos que não crescem, vencer na vida é prover. Quem consegue juntar mais, tem direito a ter mais prazer, mesmo que esses prazeres sejam meros fetiches alienantes, como acreditar que mulheres são objetos a serem comprados e não seres a serem conquistados em uma relação sentimental.

O pior de tudo isso é que esse mundo que nos impingiram não atinge só aos homens, as mulheres na sua maioria embarcam nessa lenda também. Vendo o Instagram ou qualquer outra rede social, é comum encontrarmos frases de mulheres falando que o que lhes dá maior "tesão" é quando um homem lhes fala ao ouvido: Deixa que eu resolvo. E, a partir daí, temos um novo ciclo do herói que se obriga a resolver até o que não conhece, ou não pode, porque esse é o papel do homem.

Aos 50 anos, a gente olha para trás e vê várias vidas já vividas, reconhece os erros, os padrões e os perigos, eu já caí nesse papo várias vezes, já sacrifiquei o dinheiro que não tinha, o tempo que era escasso e a energia que não restava em missões impossíveis para poder receber como pagamento o sorriso lindo e agradecido da donzela a ser salva. Isso é ruim? Não, isso é bom, mas é muito bom mesmo, afinal nos treinaram a vida toda para este momento, porém isso tem um custo físico e mental que nos torna farrapos humanos muitas vezes.

Toda essa mega introdução é para dizer que nós, homens, somos também vítimas do machismo. Sim, tu leste cert, meu amigo, pode ser que tu nunca tenhas pensado nisso, mas tu és, sim, vítima de um machismo frágil que te exige o que tu não tens, apenas para sustentar uma cultura que tu nunca teves o direito de avaliar, que dirá de questionar.

Hoje, durante uma gravação do podcast do Nenê Zimmermman , que eu divido a direção com a minha sócia Gi Alvarenga, ouvimos  da entrevistada Fátima Torri a frase que penso há meses: " O homem também é uma vítima do machismo estrutural" , ou algo assim, e isso me fez ter certeza que não sou um lunático enxergando monstros na caverna. 

Mas por que escrevo isso às vésperas do Dia da Mulher? Por que é necessário que a gente discuta o machismo olhando para o feminismo como um braço de salvação.

O feminismo é o movimento do igual, do justo, dos direitos compartilhados, da libertação feminina, mas a cima de tudo, para nós, da libertação masculina, da possibilidade de retirarmos das costas a armadura de séculos e que já não aguentamos mais envergar. 

Eu não quero mais ser o super herói da vida de ninguém, eu quero ser eu, com minhas virtudes e defeitos, com a minha sensibilidade e meus vícios, com o meu amor e o meu ódio. Quero chorar, cansar, desistir, recuar e, quando eu me sentir pronto, então, e só então, quero voltar a lutar, para vencer para mim, para meu deleite e não por obrigação de uma sociedade doente e míope.

O Feminismo vai salvar os homens.

Sim, é isso mesmo que tu leste, o feminismo ainda vai salvar a sociedade, e nós, homens, seremos libertos por tabela.

Autor
Sócio-cofundador da Cuentos y Circo, Puhlmann é um dos principais especialistas em YouTube do país, com um olhar focado em possibilidades de faturamento na plataforma e uma larga experiência em relacionamento com grandes marcas do mercado de entretenimento. Além de diretor de Novos Negócios da CyC, tem também no seu currículo vários canais no país, entre eles o do escritor Augusto Cury, do Gov Eduardo Leite, Natália Beauty e do Grêmio FBPA, sempre atuando como responsável pela estratégia de crescimento orgânico dos canais. Já realizou palestras sobre a nova Comunicação juntamente com diretores do YouTube Brasil como a abertura do 28º SET Universitário da Famecos-PUCRS, o YouPIX/SP e o Workshop YouTube Gaming Porto Alegre. Desde 2013, Puhlmann ministra cursos, seminários e oficinas sobre YouTube, tendo mentorado mais de 30 canais nos últimos anos.

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